AVARIAS: No próximo artigo falo bem

Opinião de Fernando Proença

“Mulher em estado crítico depois de se ter afogado na Praia de Mira”. Rezava assim o rodapé de um dos noticiários da Correio da Manhã TV (CMTV) na tarde de um dia da semana passada. Vi (e li) a notícia, não sei o que aconteceu à infeliz rapariga que, segundo o que percebi, tentou salvar uma prima que estava em dificuldade dentro de água e acabou mal, dependente da sorte, e do labor de uma equipa do INEM. No exacto instante em que passavam as imagens em directo, tentavam a reanimação. Agora que eu pensava que uma pessoa que se tinha afogado estava morta e nunca em estado crítico, pensava. Não faço grandes filmes do mau uso que se vai dando ao português. Não me ponho a fazer as vezes de santo padroeiro das letras lusas, até porque posso ter um grande problema com a colocação das vírgulas, como é do conhecimento público. No fim de contas pode ter havido uma confusão destas com o jornalista que escreveu a notícia: é grave, não perceber a diferença entre afogado e em grandes dificuldades. É sinal dos tempos. Mas também é sinal dos tempos a outra hipótese que na altura pensei. A de que o jornalista em causa, sabia que não devia escrever “afogada”, mas que escrevendo a palavra, essa era a única forma de construir uma notícia para o espaço disponível que tinha no rodapé. Nunca caberia naquele espaço uma conversa mais ou menos assim: “INEM tenta salvar da morte mulher, em grandes dificuldades, depois de ter estado dentro de água muito tempo sem respirar.” Qual é a diferença entre a morte por afogamento e o estar em grandes dificuldades? Talvez tão pequena que justifique o mau uso do português. Tudo isto me faz lembrar o empobrecimento que dia após dia submetemos a língua, em nome da rapidez, da facilidade da leitura e da utilização maciça do digital, como se podia descrever no “Prós e Contras”. Volta Jorge Jesus estás perdoado. Por falar em “Prós e Contras”: outro dia deixei-me estar, sem mudar de canal, coisa que faria em situação normal, tentando ver o mesmo “Prós e Contras”. Fátima Campos Ferreira continua igual a si própria, maravilhosa para quem gosta do estilo, insuportável para quem o detesta. Eu aproximo-me da segunda hipótese; não tenho nada contra a senhora que porventura será muito simpática e boa profissional. Mas o seu estilo redondo, feito a meias entre uma voz pretensamente impositiva, e um ar de mestre escola deslocado(a) no tempo e no espaço fazem mais pelos canais cabo (ou pela leitura), que propriamente o desejo de ver uma série, um filme ou ler um livro. Mas se o pior do programa fosse a apresentadora, ainda era o menos. Também via a selecção e não gostava do Meireles. O mal são os convidados, que não sendo nada que me faça cortar os pulsos de impaciência (aquela conversa cifrada, feita de lugares comuns, quer se fale da floresta, quer se trate do brexite é fatal), também não se destacam do político médio português, chato, cheio de uma retórica para entreter burgueses e preguiçoso para pensar nalguma coisa que não seja adular os chefes.

Fernando Proença

 

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