AVARIAS: O 25 A, como se diz agora

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É incontornável, como agora se diz, que no momento em que escrevo, quase tudo (em televisão) tenha a ver com a Páscoa e (ou) o 25 de Abril. Eu sei que a flutuação da data religiosa pode afastar as duas comemorações, mas ficam sempre à distância de uma amêndoa. A Páscoa em televisão, é o território de filmes como “A Bíblia” ou “Ben Hur” e o 25 de Abril, de um espectáculo com os capitães de Abril sobrantes, “Prós e Contras”, com velhos e novos dos dois lados da mesa (que um debate entre democratas e anti-democratas está fora de hipótese. Tenho a impressão que, se perguntarem, aos líderes do extraordinário partido renovador português, vão dizer que mais democratas que eles, é difícil encontrar), mais entrevistas nos noticiários a quem veio ao Algarve, a quem veio ao Algarve mas não foi à praia, a quem foi à praia mas não tomou banho e, finalmente, a quem tomou banho não vindo ao Algarve nem indo à praia, só porque tem uma banheira em casa. Este ano calhou organizarem um concerto comemorativo com transmissão na RTP1. O mote era a figura e a música de José Afonso e assistiu toda a gente de Abril, mesmo os que o foram por portas travessas. A ideia, muito cara ao nosso canal público, era uma espécie de juliuisidrada (ideia posta em prática há muitos anos por – como o nome indica – Júlio Isidro num dos seus intermináveis programas de, salvo erro, Domingo à tarde): nela, um rolo compressor fez de maneira a que, com o auxílio de vozes melífluas e arranjos pasteurizados para orquestra e coro, as canções do nosso melhor músico de sempre, pareçam todas iguais e todas igualmente fraquinhas. Para obstar isso passavam, ao princípio, um breve trecho do original, sem o qual muitos dos temas seriam anónimos. Um grande acontecimento é também sempre a transmissão, em directo, da sessão da Assembleia da República, bem decorada como manda a sapatilha. Os cravos estavam sempre em grande profusão e em alta, e todos vimos Carlos César a falar como um democrata e socialista dos sete costados. Como alguém escreveu, muito antes de mim, pode custar a ver tamanha demostração de amor pelas políticas socialistas, por parte de quem, dizem as más línguas, fez um bocadinho mais de força para arranjar empregos públicos (e isso é de conhecimento geral) para uma parte da família. Socialismo sim, mas primeiro estão os de casa. O resto é igual, o que pode não ser mau de todo. Lembro-me que nos últimos tempos do regime de Marcelo Caetano, tudo o que passava ou não na televisão ou rádio (passaram um jogo Benfica – Sporting sem avisar, deve ser a revolução que vem aí), era objecto de escrutínio, porque se pensava que o regime não duraria muito, mas o certo é que lá continuava. Às vezes a normalidade, mesmo a baixa normalidade, é muito boa.

Fernando Proença

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