Avarias: O futebol como metáfora

Os meus amigos que me desculpem, lá vem, a meio da rua no sentido de quem desce, o futebol. Já pensei trezentos – segundos – trezentos segundos, o que me faz referir tantas vezes ao tão ensandecido e vitoriado (em partes iguais) futebol: na maior parte das vezes não o trago pelo jogo, mas antes por todo aquilo que o futebol capta e aumenta através de uma lente, do comportamento do mundo e arredores.

O futebol é hoje (como o são as redes sociais e as relações de trabalho), a ponta do iceberg das grandes paranóias dos tempos modernos, e depois disto podia ir-me embora para casa, com a satisfação do dever cumprido, mas não, estou aqui para vos continuar a aborrecer de morte. Dou como exemplo a contradição entre o que se diz e o que se faz, aliado ao facto de cada vez mais funcionarmos como representações de nós e agimos como se fossemos todos Mourinhos.

É o caso da situação que se vai vulgarizando em que os jogadores que defrontam o clube de onde saíram ou já jogaram, preferem não comemorar quando marcam um golo, por respeito, dizem eles. Se calhar, dizem e fazem bem, mas cá ao maduro /velho faz espécie que num mundo – e agora vem o moralismo de pacotilha, mas é o meu moralismo – em que ninguém (ninguém, ninguém, não…) está interessado na camisola – aos que a esta carapuça não cabe, que são muitos milhões distribuídos por esse mundo fora, as minhas pouco sinceras desculpas – andam aquelas boas almas a querer mostrar, o que dificilmente algum jogador profissional terá neste momento: amor à camisola e ao clube que representa.

Lembrei-me da história das praxes. A experiência diz-me que existe uma relação estreita entre a pouca qualidade de uma universidade e o seu investimento (porque é assim que o vejo) na praxe. Ou seja, estudos sérios feitos a partir de situações reais, entendem que quanto mais se estuda menos se praxa.

É num folclore como este que insiro a questão mais global dos festejos (ou da falta deles). Quanto mais se caminha para um comércio total do fenómeno futebol, com jogadores, dirigentes, clubes e empresários a porem as fichas todas na mesa (muito obrigado JJ), com vista a ganharem mais e mais dinheiro sem olhar a meios, mais se vão adensando estes assuntos laterais, que apenas servem para dar ao assunto em epígrafe, uma aparência de quem vê mais além do dinheiro. Como a que vai sobrando das quase sempre dispensáveis declarações de jogadores e treinadores. Agora foi Otamendi que em recente entrevista, notou que se sacrificaria até à morte pelo clube que o contratou.

Claro que há muitas interpretações de, até à morte, noutros jogadores (e se calhar no próprio Otamendi), mas não deixa de ser uma palavra forte. Geralmente a morte vem só um pouco antes do tal jogador aceitar mudar de clube, a troco de um substancial aumento de salário. Pois será assim, e eu a pensar que todos levariam as declarações até às últimas consequências. Mas não soube ler as entrelinhas, devia ter estado calado.

Fernando Proença

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