Avarias: O meu voto

O Presidente da República publicou um decreto em que chama “colaboradores” aos trabalhadores que podem ser convocados para fazer certas e determinadas funções. Mas como não é por causa de um golo na própria baliza que se estraga a carreira de um futebolista (sobre um certo remate feito por um jogador do Benfica no Benfica – Rangers que deu um maravilhoso golo dos escoceses, já não digo nada…), também uma asneira (e mais umas quantas liberdades…) não retira o brilho a um mandato. Não se ponham já a ver-me com esses olhos de carneiro mal morto; qualquer um de nós numas funções daquelas e não nos tiravam de casa antes das quatro da tarde, alagados em suor com o nervoso miudinho.

Num jantar com o presidente de Patópolis quem se senta à direita do Tio Patinhas? O sobrinho Huguinho comerá na mesa dos adultos os das crianças? Eu sei que o Protocolo, tem que justificar o salário, mas tudo aquilo é uma canseira para a cabeça: beija-se quem?, aperta-se a mão a quais? (atenção, texto escrito em sete de Novembro de dois mil e vinte. Os beijos e os bacalhaus eram só para saber se os meus amigos estavam com atenção), isto tudo porque o nosso presidente aderiu à causa das modernices: “colaboradores” é o eufemismo para uma relação de trabalho que as empresas mais o marketing trataram de endrominar, para que todos, mesmo os que ganham salários mínimos e principalmente esses, pensem que – no meio da sua santa ingenuidade – somos todos iguais. Como quando se criaram os “empresários” para se diferenciarem dos “patrões”, carregados de más energias. Só conversa.

Bom, Marcelo teve um deslize e parece que para muitos dos portugueses não deixa de os colecionar: porque vai dar uma vacina e é fotografado de tronco nu; que é uma Maria vai com as outras que só quer selfies e cotoveladas, porque não está interessado noutra coisa que não seja a reeleição, com piscar de olhos a tudo o que possa render votos. Parece-me que, talvez sim, talvez estejam cheios de razão que Marcelo será, porventura, uma espécie de um populista de baixa intensidade, mas ainda tenho uma réstia de esperança na humanidade. Sinceramente e tirando a reeleição, em que tenho a ideia de que é mesmo um objectivo do actual presidente, tudo o restante é Marcelo ele próprio e a sua máscara que sempre foi assim, sem tirar nem pôr.

A questão é que todos sabemos quais os poderes do Presidente da República e até onde pode ir a sua participação na política. Se o Presidente é assim uma espécie de Rainha de Inglaterra dois graus acima em termos de participação, o que lhe podemos exigir? Talvez um político, como Marcelo, que seja mais um engraxador de almas do que propriamente um líder marcante.

Não se esqueçam, no entanto, que Cavaco Silva que parece ser o paradigma do verdadeiro presidente, para muitos portugueses, teve a seu tempo uma intervenção decisiva, que meteu discurso surpresa na televisão portuguesa, sobre o importante estatuto dos Açores. Com Marcelo a expressão é diferente e mesmo que mande pouco, não temos o aborrecimento de ter que aturar a cara de pau do seu antecessor. Que é o que nos ficará na memória. E é muito triste ser assim.

Fernando Proença

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