Escrevo, enquanto não se sabe nada sobre como vão evoluir as coisas, no conflito latente EUA – Irão. Se fossem minudências, respeitantes só aos nossos amigos quase beligerantes, não pensava, nem um bocadinho, sobre as possíveis consequências. Mas não: por azar, aquilo mexe com o preço do petróleo, os nossos soldados estacionados no Iraque, o turismo, etc. Estou a mostrar a minha face mais cínica e egoísta, mas em tempos confusos nada melhor que começar a tentar proteger os nossos. A pura verdade é não devia ser assim tão pouco solidário com o Mundo, mas cada um é para o que nasce.
Trump fez o que se receava (arquitectar a forma de unir os americanos perante um perigo externo para dizer que agora não é altura de pensar em destituição, penso eu de que), que tanto podia envolver a morte de um general muito importante (sénior, como lhe chamam na televisão), como um ataque de mísseis a uma cantina (dos oficiais de alta patente, de preferência) num qualquer quartel na Síria. O modo como o fizeram seria, talvez, mais próximo de Putin ou dos métodos da Arábia Saudita, mas os bons exemplos são para copiar. O problema é que, à frente de uma grande potência, está um presidente (Trump), que parece não jogar com o baralho todo (ou joga e faz batota), mais uma máquina de guerra que precisa de ser alimentada, e do outro lado uns tipos absolutamente desconfiáveis, se é que a palavra existe. Sabemos que os americanos não são flor que se cheire, mas não nos devemos esquecer que os iranianos não querem enriquecer o urânio só porque, para o ter, melhor que seja milionário. Nunca devemos esquecer que o país é um dos maiores produtores de petróleo do Mundo e uma central nuclear devia ser a última das opções razoáveis. Postas as coisas neste pé, lembro aos meus quatro amigos, que vamos voltar a encontrar nos próximos tempos nas nossas televisões, os comentaristas que estão para a política como os paineleiros para o futebol; acantonados em trincheiras, uns pelos americanos, outros pelos iranianos.
Outro dia ouvi alguns convidados a opinarem sobre a morte do tal general iraniano e pensei, por momentos, que o homem afinal não era militar mas sim um santo. Sei que a morte é, por princípio, o caminho mais directo e célere para a canonização, mas um militar de alta patente, iraniano, destacado no Iraque, junto de umas milícias militares, num vespeiro acabado, não deve passar o tempo em que não está a rezar a ajudar velhotas a atravessar ruas. Ou se ajuda, fá-lo-á em nome de Alá que sabemos é grande mas, muitas vezes, pouco misericordioso, pelo menos a fazer fé na vida e obra de muitos dos seus seguidores na Terra.
Fernando Proença