AVARIAS: Poirot 2

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Colaboradora. Designer.

No meio do futebol, da conversa sobre as transferências (que não é bem futebol…), das reportagens por todos o país (para que ninguém fique a chorar), dos, felizmente, poucos incêndios (na data em que escrevo, no meio da greve dos camionistas, os fogos quase não mostraram a cara: não sei se uma coisa tem a ver com a outra, apesar do vento e tempo quente), vai-se vendo umas coisas na televisão, habitualmente sem grande consequência. Revê-se uma ou outra série, um ou outro filme, ou seja, tudo o que é marcante fica para Setembro. No FOX Crime têm passado novas adaptações de obras de Agatha Christie. A última – Os crimes do ABC – mostra um Hercule Poirot que é uma figura distante da de David Suchet (para a maior parte do público, o Poirot definitivo em gestos, gostos, figura e idiossincrasias) e que me levou a encetar uma breve digressão por actores que ao longo dos tempos desempenharam a figura do detective, em séries ou pontualmente em filmes. Especificamente, Os crimes do ABC, foram merecedores da atenção de produtores e realizadores em inúmeras ocasiões, provavelmente umas muito melhores do que as outras (como tudo em geral, menos a febre dos fenos, que é sempre má), mais ou menos próximas do original. Ou seja, desde os tempos imemoriais do cinema de polícias, detectives e criminosos em geral, que os pontos de vista têm vindo em mudança. Dos primeiros policiais, quase só dedução, inteligência e sorte em doses aproximadas até aos CSI, prodígios do papel da técnica, já se viu de tudo. No entanto a série que reafirmou David Suchet como o Poirot original e que foi produzida a partir da década de oitenta pela Weekend Television, foi a que mais adeptos reuniu, talvez por que repunha com mais fidelidade os livros da escritora inglesa. Tudo se passava habitualmente nos círculos da alta burguesia e aristocracia, não se sabendo como conseguia o nosso inspector favorito sustentar o seu estilo de vida. Aparentemente não era pago e só aceitava trabalhar (era, obviamente, uma força de expressão) à borli, ou como se diz agora pro bono. A produção era esmeradíssima e o inspector, exactamente a pessoa que trabalhava quando e onde queria. Ainda por cima, mantinha um formidável estilo de vida. Além do mais tinha os seus quês, que por vezes eram mesmo grandes quês. A mais recente produção de que lhes falo, pega em Poirot e dá-lhe, como diria Jorge Jesus, uma volta de 360º, com a figura de Poirot agora desempenhada por John Malkovitch. Muita coisa mudou desde a ideia veiculada pela Weekend Television: este Poirot está muito longe do dândi tardio interpretado por Suchet. Malkovitch é agora um outsider, em que o seu estilo de vida já viu melhores dias e a influência junto da polícia é vista com desconfiança e até desdém. O pormenor em que da barba (que ele pinta em casa) cai tinta e o inspector Crane (com a arrogância dos novos) que entra a pés juntos quando o conhece desprezando-o, lhe chama a atenção, é paradigmática. É tempo do velho ir embora… mas, iremos ver, devagarinho.

Fernando Proença

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