AVARIAS: Por mim está o caso encerrado

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Colaboradora. Designer.

Uma semana volvida sobre a vitória de Bolsonaro, continua a televisão portuguesa a ocupar, com ela, uma parte substancial dos seus noticiários, os noticiários e o meu espaço no “Avarias”. Mas eu tenho a desculpa de não escrever artigos baseados em maridos atraiçoados, assassinos em fuga e acidentes na A1: ou seja, ao CMTV nunca falta assunto. Eis então a situação em que estamos: alguns portugueses antifascistas descobriram uma entrevista em que o juiz Sérgio Moro (aceitou ser ministro da justiça de Bolsonaro) declarou que nunca iria entrar na política; jurava a pés juntos para que não restassem dúvidas. Em consequência, fui passando um olhar sobre blogues, daqueles que editam tudo o que lhes passa pela frente dos olhos, tirando a conclusão, que não há quem tenha um espírito justiceiro que não o tenha replicado e adoptado na sua moral: “Como é que alguém que disse o que disse toma, depois, uma atitude daquelas? Parece impossível!!!”, eram os comentários (implícitos e explícitos) generalizados. Outros diziam, “Tem que se tratar de um homem sem palavra, altamente ambicioso, que não olha a meios para atingir os fins”. Não percebo tamanha excitação: negando esse princípio (o de jurar hoje, fazendo exactamente o contrário amanhã), existiriam hoje, em Portugal, muito poucos políticos; presidentes de clubes de futebol e em geral, presidentes de câmara e gente influente do ponto de vista do poder. Para falar francamente, parece-me que o convite a Sérgio Moro conforma uma forma de pagamento pelos serviços prestados (voluntária ou involuntariamente) à causa do atual presidente e, porque não? – para dar uma certa aura de honestidade ao novo governo. Não me parece que esse estado de graça (se é que vai existir) dure muito tempo, mesmo controlando a cúpula da justiça, se é assim que se pode dizer, mas – do ponto de vista de Bolsonaro – enquanto o pau vai e volta, folgam as costas. Quanto ao resto gostava de notar o que os jornais de direita costumam embrulhar com cuidado o que lhes interessa notar, visando encalacrar a esquerda. Conformando a ideia anterior, uma das tomadas de posição, desses jornais, pode, nesta altura, resumir-se ao seguinte ponto: tanto barulho com Bolsonaro e não se houve uma palavra de repulsa, em relação a Maduro na sua Venezuela. Sei que os brasileiros estão mais perto de nós, mesmo muito mais perto, mas é capaz de haver ali, mesmo, em certa esquerda, uma tonelada de indulgência com um regime, o venezuelano, aparentemente indefensável, só porque é… contra a América. Nesse sentido, não me parece excessivamente deslocada da realidade, a posição de alguns jornalistas de “O Observador”. O restante, é um problema dos brasileiros, que votaram maioritariamente em quem votaram: criaram o monstro?, é com ele que vão ter de se haver.

Fernando Proença

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