O jogador do Sporting de Braga, Dyego Sousa, foi convocado por Fernando Santos e já fez mexer o ambiente em redor do jogo, isto se o virmos, como mais do que táctica e opções do banco. Em geral, por cá o que não é táctica e, como dizia Jorge Jesus, contragolpe, só dá para comentar a hora que um clube estrangeiro possa levar os nossos melhores jogadores na reabertura do mercado, questão que dá pano para mangas. Dizia então eu que a discussão que hoje menciono, sobre se um jogador nascido no estrangeiro de fora (como se diz em Olhão) deve poder jogar pela selecção nacional, volta a estar na ordem do dia, é porque o caso Pepe anda meio esquecido. O caso andava adormecido, mas agora actualiza-se com contornos de auto-vigilância, vindo da zona do “politicamente correcto”, porque o seleccionador resolveu chamar um brasileiro que não sendo grande coisa, é melhor do que os que nasceram em terra tuga. Não que eu esteja muito atento ao que se vai dizendo pelas redes sociais ou nos jornais da especialidade, mas pela reacção do locutor da Sportv quando lançou a questão num programa da semana passada, pensei aí vem chatice. Dizia ele mais ou menos o seguinte: “…vamos rever as opiniões sobre se Dyego Sousa deve ou não ser chamado por Fernando Santos…”, gaguejando,”…não que tenha alguma coisa a ver com o lugar onde nasceu…” continuando a gaguejar, “… não que existam motivos que não da sua valia com o jogador…”. Era, seguramente, o subconsciente do apresentador da Sportv a fazer das dele, segredando-lhe: podes (o subconsciente trata-nos sempre por “tu”), perguntar ao estimável público, que um jogador que nasceu fora do país e para cá veio aos dezoito anos, pode ou não ser incluído na selecção A, dez anos depois de cá estar? Ou ao fazeres uma pergunta dessa estás a deixar um rasto de xenofobia e se calhar até de racismo? Tem cuidado com o que dizes, que o jornalismo pode ser uma montanha russa de oportunidades! Sei que o subconsciente pode ser o nosso melhor amigo em situações que nos podem dar chatices e aborrecimentos com superiores a e, até, visitas lá de casa, mas também como nos pode reprimir até limites insuspeitos. Hoje, tudo o que possa cheirar a pôr em causa direitos de comunidades, pode trazer agarrados toda a espécie de prejuízos; estamos mergulhados na era do ressentimento. Antes, não me parecia nada de especialmente gravoso que se dissesse que um jogador que nasceu no Brasil não devia vestir a camisola da equipa de todos nós, assim como a ideia contrária. Não se estava a infringir nenhuma regra de conduta, pelo menos para as pessoas normais como nós, que se preocupam com o que se diz e com o seu efeito sobre os outros. Mas as coisas mudaram, e não necessariamente para melhor.
Fernando Poença