Devo andar pior que o normal, mas palavra que só gostava que alguma alma caridosa me informasse da razão última para que existam “residências” – físicas – para “nómadas digitais”, ou lá como se chama o raio da coisa. Há já algum tempo que a minha a alma estava parva, com uma notícia sobre “nómadas digitais” que se tinham instalado num qualquer recanto da nossa ilha da Madeira. Agora foi outra região (cidade?) a sair na rifa e, a menos que eu tenha sempre acertado na notícia que não devia ” ser “nómada digital” vale a pena, talvez pela amenidade da coisa. Parece que tudo aquilo recria um pouco aquelas benesses da residência de escrita (e porventura científica) que se vão fazendo num ou noutro lugar, mas agora para tipos que trabalham a partir do computador.
Mas residências científicas e de escrita ainda vai que não vai: noutros ambiente e lugares pode ser que a coisa floresça (acho que nem assim Valter Hugo Mãe melhoraria…). Agora – e se eu estou a ver bem o grande quadro – para gente que se pode pôr no outro lado do mundo num clique, para que lhe serve ir viver uns tempos para a Madeira com o computador às costas? Pois, exactamente para o que os meus amigos estão a pensar: desopilar (também têm direito) e sacar uns dias de férias aos otários que os recebem.
Já percebi que hoje, estou um má-língua, mas é sem exemplo e, quem diz uma diz duas. Estava eu metido nos meus tamancos quando li num dos principais órgãos de informação tugas que, no meio de tanta desgraça o confinamento afinal tinha servido para alguma coisa: a venda de vinho nos supermercados portugueses tinha aumentado dez por cento em relação a igual período anterior, isto apesar de ter havido alguma descida do produto nas exportações. Ou seja, se não estou em erro e a partir de uma reportagem que tinha visto num dos noticiários da nossa diligente televisão afinal tinha havido falso alarme e aquilo que me dizia o meu senso estava certo: a malta em casa bebe mais, o vinho está à venda nas lojas e supermercados e é só uma questão de somar dois mais dois.
Na altura era vê-los (aos produtores) chorar baba e ranho, que tudo ia muito mal, que estavam à espera de subsídios o que não é nada de especialmente novo. Vejam o que dizem as vendedoras de flores nos cemitérios no dia de Todos-os-Santos e dos assadores de castanha, que quando inquiridos nos primeiros dias frios de Outono dizem que está tudo uma desgraça, muito pior que nos anos anteriores. Com a diferença que estes não pedem dinheiro ao Estado, talvez derivado da sua falta de poder negocial. Agora as exportações – ou a falta delas – pode ser um escolho. Os tipos dos vinhos que entram no mercado externo e vendem tudo a preços proibitivos, talvez que não se resolvam tão bem com os unhas de fome portugueses. Que o dinheiro custa a ganhar por cá.
Fernando Proença