AVARIAS: São os tempos, sãos tempos…

Vi, como a maioria dos portugueses, o presidente Marcelo a entregar comida aos sem-abrigo. Uma atitude daquelas divide opiniões e é como se costuma dizer, em prol dos bons lugares comuns, mais uma acha para a fogueira; a fogueira em que os tugas costumam recozer a quem ela se habilita por obras e factos. Neste caso, a obra está dependente do afã do presidente para tudo tocar, abraçar e oscular. Como na anedota, o povo, instado a responder sobre se os portugueses aprovam ou não, a actuação do Presidente da República, uns, dirão que aprovam, outros que não, e outros ainda que terão opinião depois de experimentar, e todos terão as suas razões. Procurar mais no fundo é carregar as tintas sem necessidade, e se calhar, descobrir intenções onde elas não existem. Será caso para dizer que, mesmo sabendo que possamos a estar a tratar com a mão direita do diabo (e não estamos), tirar conclusões aterradoras sobre a personalidade do senhor em causa, pode ser um bocado retorcido e exagerado. Que Marcelo tem demasiada rotação, parece não existir dúvidas, vai a todo o lado, opina sobre tudo, e em tempo record encontra culpas, virtudes e esperança. Isso pode dar a ideia errada do tempo que a governação tem para analisar e decidir o que tem que fazer, perante os problemas existentes. Como todos sabemos, é nesta situação que tem insistido o governo para desculpar a sua falta de vigor resolutivo. Diz ele (o governo), que tem de haver um tempo para se separa o trigo do joio, que traduzido para a prática, pode significar “entregar o dinheiro existente em boas mãos”. O problema poderá ser talvez o seguinte: apesar de todas as cautelas e caldos de galinha, pessoas que receberão muito dinheiro, deviam receber muito menos e vice-versa, tornando os incêndios deste Verão e respectivas indemnizações, os maiores potenciadores de injustiça social, a um nível muito básico, está-se bem a ver. Esperemos que nessa altura o presidente Marcelo continue a fazer o seu trabalho de pesquisa e avaliação, como manda a sapatilha.
Já me ri com a história do jantar do Web Summit no Panteão Nacional. A ideia de ver, já entrado na noite, um americano com um copito a bordo, repousar uma sandes de coiratos, um prato de filetes de corvina em cama de espargos e manjericão e redução de vinho da Madeira, sobre o túmulo de Amália Rodrigues, parece-me entusiasmante. Além de que os seis mil euros do aluguer podem fazer algum dinheiro extra, para pagar os salários, automóveis e assessores do secretário de estado da Cultura. Todo o mundo aluga salas, mas convinha que se assegurassem da (in)dignidade da utilização de certos espaços, não vão aproveitar o cemitério dos Prazeres para os festejos de um gótico. No meio de tudo isto, o responsável do evento apressou-se a pedir desculpa, não percebi bem de quê, já que se existe alguém que não tenha culpas no cartório é ele (e eu, já agora). Deve ser americana, a criatura. Tiveram um caso extraconjugal/pedem desculpa ao público em geral/contaram uma anedota menos feliz em privado/pedem desculpa com medo do comportamento mercado/(rima e é verdade). Podem ser grandes empreendedores mas não têm tomates. E assim vamos nós.

Fernando Proença

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