AVARIAS: Sinais dos Tempos

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Colaboradora. Designer.

Vi, no cinema, o último filme de Clint Eastwood “Cry Macho – O caminho para a redenção”, que me pareceu bastante razoável, naquela ideia de um western moderno na figura do actor /realizador que transporta sempre um aura de moralismo muito à americana. Também me pareceu um filme de fim de vida, muito sincopado e, a espaços, esquemático para que as ideias colem: nesse sentido podia quase ser um filme de princípio, quase de tese, um pouco ingénuo e porta estandarte do lado viril e vulnerável do actor – realizador, e que – apesar de hesitações e cenas ligeiramente mal atamancadas – nesta altura do campeonato pode ser melhor do que a média do que se vai vendo por aí.

O cinema de Clint Eastwood, para vos exemplificar, é o protótipo dos filmes que não fazem grandes ondas, sóbrios de história escorreita, sem pretensões a fazer o melhor (nem o pior, que é uma ambição tão digna como qualquer outra) filme de sempre e em linha com uma certa produção média de Hollywood, que se vai perdendo.

Este paleio todo para vos dizer que este é um cinema que se vê cada vez menos: não tem efeitos especiais, super-heróis, vampiros, bruxas e malta que ressuscita ao décimo terceiro minuto, que ocupa noventa por cento do que está em exibição e que suporta, parece que em todo o mundo, a venda de pipocas em ambiente controlado. Ao mesmo tempo existe uma produção que vai vendo a luz do dia (como quem diz) em festivais de segunda categoria ou salas esconsas, suportada habitualmente por fundos estatais, aplicados por ministérios da cultura que não querem ser acusados de serem coveiros do cinema e chegam-nos, por exemplo, na programação da RTP2 ou mesmo em vídeo. Esta produção não se fala com a primeira nem lhe reconhece qualquer valor artístico e quem vê os filmes (de grande espectáculo) pode não reconhecer uma lista de filmes da segunda lista (artísticos) nem que estes lhe batam de frente numa rua pouco movimentada. Estamos assim no cinema, na música e um pouco em tudo o que possa ser guardado na gaveta que diz “Cultura”, junto ao puxador. Existem, claro está, excepções à regra, obras que atravessam gostos e devoções (por exemplo na música podia lembrar-vos Billie Elish), mas tenho a impressão que todos contados não ultrapassam os dedos (mesmo que tenhamos perdido algum, secção politicamente incorrecta do texto).


Outra noite vi uma entrevista com um elemento da Associação dos Cidadãos Auto-Mobilizados. Visitei o seu sítio (o seu a seu dono) e descobri que aquela é uma associação que pretende defender todos os que andam na rua e na estrada. A questão é que estas coisas são sempre teoria, porque na prática, lutam encarniçadamente contra quem anda de veículo motorizado. Nós, portugueses continuamos a ser o oito e o oitenta. Antes, peão que atravessasse uma rua ou estrada não tinha direitos, hoje tem-nos todos e deveres nem por isso.

Se qualquer dos meus amigos circula na cidade sabe o que lhe pode acontecer: o cidadão (muitos cidadãos) atira-se à estrada sem se importar com nada, telefonando ou ouvindo música com édefones. Fiquei um bocado de pé atrás quando ouvi o entrevista mostrar quão maus são todos os automobilistas, porque todos (peões) já viram (segundo ele), gente que não pára e levanta a mão a pedir desculpa. Não sei se o tipo tem carro, mas se tem e ainda não lhe aconteceu fazer isso, devo pensar que já atropelou alguém, mas não altura não reparou.

Fernando Proença

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