AVARIAS: Tudo como dantes

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Colaboradora. Designer.

Desde o momento em que escrevo, até daqui por quatro dias, os principais assuntos da televisão portuguesa, versão generalista, serão: estado das reservas nos principais hotéis da serra da Estrela; estado das reservas nos principais hotéis na Algarve; entrevistas com diretores dos estabelecimentos hoteleiros em causa (não todos. A razão das escolhas escapa ao “Avarias”, talvez sejam amigos de um amigo, amigos de alguém da administração; os que ficam mais perto da casa do jornalista da estação; os que ficam mais longe da casa do jornalista da estação). Nas entrevistas em causa, menção aos serviços oferecidos, com imagens da sala de jantar previamente decorada para parecer fim-de-ano. No caso da serra da Estrela, muita atenção à questão da neve: há ou não há?, há pouca e pode não dar para entrar no ano de 2019. Televisões mais avisadas podem pegar na coisa e ligá-la às alterações climáticas. Convoca-se um especialista para tratar do assunto. Pela enésima vez no dia, fala-se da pegada ecológica. Ninguém faz humor sobre isso, dizendo por exemplo que, se existe uma pegada ecológica, a polícia judiciária (PJ) devia ser chamada a investigar. Além de que não se deve brincar com coisas sérias, sendo tudo o que envolva especialistas ou pseudo-especialistas, é uma coisa séria. Fala-se igualmente na questão mais prosaica da utilização dos canhões de neve, que contrariamente ao que possa parecer não envolvem guerra. Entrevistas com turistas brasileiros que esperavam neve, entrevista com turistas portugueses que esperando neve, não se importam com a que (não) está, e sempre se sai da Baixa da Banheira. Descemos cá abaixo, com uma ou outra paragem na centro e Lisboa sempre em busca de um hotel ou restaurante luxuoso, que coloca tudo o que se tem falado a um canto. Mas é exclusivo, com um preço exclusivo e põe metade da população em depressão, porque uma ceia nesse espaço equivale a dois meses de salário de uma parte substancial dos tugas. Ao mesmo tempo, tenta-se uma incursão pelo norte de Portugal, exactamente pelos mesmos espaços, caros e inalcançáveis. É altura para que os do sul deixem escapar a menção: “Bimbos…” Em continuação, e enquanto por cá vamos tendo os pés frios, entrevista-se um casal de reformados irlandeses que andam de manga curta na praia da Quarteira (como dizem os de Lisboa), dizendo que nem no Verão, lá terra deles, está tanto calor. Visitam presépios, fa-la-se em tradições, tradições e outras tradições inventadas. Fazem-se colectâneas dos melhores do ano, das palavras mais usadas pelos portugueses, das barracas dadas em cada programa porque nem só de Missa do Galo vive o Homem. Só falta, para fechar o ano em beleza, o grande destaque das salas de espera de estúdios de cabeleireiros, dentistas e médicos do coração; o nascimento do primeiro filho de Rita Pereira a quem foi dado o nome de Lonô, segundo parece nome de um deus da paz e da música. O que uma pessoa faz para que se lembrem dela, não tem explicação. E não estou a referir-me ao filho. Bom ano!

Fernando Proença

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