Outro dia pesquei em águas da internet, uma opinião sobre a busca incessante que os órgãos de informação têm vindo a fazer de ramos familiares, no interior do governo da República. Nesta situação particular a TVI tem sido a mais célere garimpeira das pepitas de ouro que são os empregos que se conseguem para a família (eu, acrescentaria amigos) neste e nos governos anteriores, com destaque para os de Cavaco Silva. Os portugueses que estão espantados com as ligações sanguíneas do governo central, parecem – na minha humilde opinião – crianças que acreditam no pai natal ou nos glutões (para os suficientemente velhos que ainda os reconhecem). Se muitos dos municípios (e muitos dos serviços públicos) são o que são, manancial de empregos para gerações e gerações de Silvas, Oliveira e Ferreiras, não vejo grandes hipóteses de se passar uma coisa muito diferente no governo. Aqui estaremos a falar, é certo, em Vasco Leite, Pimentel, Soeiro ou Amorim, apelidos com um pouco mais de patine, mas, no fundo só muda a escala da rede de compadrios. Por acaso, e só por acaso, um passarinho sussurrou-me ao ouvido que, um dia em que, finalmente, consigam regionalizar Portugal, a que famílias vão buscar os burocratas para chefiarem gabinetes e assessorarem o presidente da junta regional mais todo o seu gabinete? Às de cima (ex-secretários de Estado caídos em desgraça, por exemplo) ou aos de baixo (presidentes da Câmara que esgotaram mandatos e ainda não quiseram entrar para uma das empresas municipais que criaram como retaguarda para o seu futuro), como as vilas onde se lavava a louça com o famoso detergente? Uma destas tardes consultei um daqueles gráficos com mais um estudo (este fez-me pensar duas vezes. Os que mostram que, por ter comido umas belas bochechas de porco preto ao almoço vou viver menos dois anos, por via de um colesterol olímpico, esqueço-os imediatamente), em que se dizia que Portugal continua a ser o país europeu em que o elevador social menos funciona; após três ou quatro gerações os pobres continuam pobres e os ricos, ricos. Não funciona o elevador, mas a malta vai mesmo pelas escadas, atrás da família e amigos.
Uma das particularidades da nossa televisão é que nela existe um rolo compressor que esbate as naturais diferenças entre regiões, para pôr toda a gente a falar do mesmo modo, assim numa espécie de linguajar de Lisboa e arredores. Estou a ser um bocadinho desonesto: na televisão até se vai vendo malta com acento do Porto, do interior norte etc. Na rádio é pior; a Antena 3 que consumo, divide a locução entre palavras em inglês (que podiam ser ditas em português, mas não resultavam tão bem) e outras em puro lisboeta. Onde quero chegar? Que mesmo na TV, tenho ouvido uma série de vezes (porque o Benfica jogava lá) o nome “Feirense” e de todas as vezes, sem excepção percebi “Farense”, só porque os jornalistas abrem o “é” a parecer o “á” (como em Lisboa), quando o clube se chama, e digam comigo, “Feirense”, com “é” seguido de “i”.
Fernando Proença