Avarias: Um Natal

Já tinha uma piada engatilhada sobre o Sozinho em Casa, mas num programa daqueles que dão nas vésperas de Natal, e que deviam brilhar pela – sua – ausência, alguém se lembrou de dizer: “então, este ano alguém se lembrará de passar o Sozinho em Casa?”. Ou seja, o – meu – mundo deixou de ser um lugar previsível.

O restante não andou longe da normalidade e até cheguei a ver, pelo canto do olho, um circo. Não há Natal sem circo, nem Ano Novo sem o concerto de Viena. No, ainda mais restante, não se andou muito longe da média; a tradicional entrevista a um merceeiro sobre a qualidade do bacalhau e apontamentos de reportagem (ainda se diz assim?) sobre os mil e um doces que se vão fazendo neste cantinho à beira-mar plantado e que, este ano por sinal, eram variações regionais sobre o tema mais geral do pão-de-ló.

Passou-se o tempo com muito covid-19 e conversas cruzadas sobre se as medidas do governo são boas, más ou assim-assim; ou seja, o Natal (ou as imagens dele), veio em boa altura para não termos que chupar todos os dias com as notícias do Rendeiro. Para fechar este capítulo lembro-vos a vacinação que ainda vai dar muito que falar. Por razões que não vêm ao caso, penso grosso modo que as pessoas que não se vacinam têm (por muito que digam que não, que o problema é a impotência que aí vem, da infertilidade e o diabo a quatro) a ideia que “os outros que se vacinem que eu fico à espera”, Egoístas.


No meio de tudo ainda tive tempo para jogar o olho à série “História de uma Serva”, contruída a partir da obra, com o mesmo nome, da canadiana Margaret Atwood. A série, é uma distopia em torno da chegada ao poder nos Estados Unidos, depois de um golpe de estado perpetrado à falsa fé (pareceu-me), de uma facção ultra-conservadora e religiosa que toma o poder, esmaga as liberdades e institui uma tirania militarizada, que faz os talibans do Afeganistão parecerem crianças de colo. Quem paga o pato são as mulheres que regridem centenas de anos nos seus direitos se é que estes ainda existem. No cômputo geral, as mulheres são: a) esposas dos Comandantes, estéreis (por razões que os meus amigos podem descobrir vendo a série do princípio), que querem filhos. b) Servas (aqui o foco é Elisabeth Moss aka Osborn), férteis que copulam (sabiam dizer isto?), com os comandantes na presença das esposas deles (parece complicado e, é…), mas que assim que engravidam perdem o direito aos filhos, que passam para os Comandantes. c) outras mulheres, que não aparecem ou são enviadas para as chamadas Colónias, onde parecem viver abaixo do estatuto de animal.

Isto assim contado parece simples, mas deu para quatro temporadas. Há muito de crítica social, política e de género, mas não panfletária. A fotografia é escura e põe problemas a quem tem falta de vista, mas se não fosse assim não se acreditava. O principio é o mesmo dos filmes de James Bond; os maus andam uniformizados e conduzem carros de cor antracite. E como os Comandantes dizem, eles protegem ao ambiente do mal e são amigos da Terra. É caso para dizer que Atwood tem visão para a coisa.

Fernando Proença

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