AVARIAS: Um pedido de desculpas e uma constatação

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Para já, um pedido de desculpas. Por uma razão que só a razão desconhece e sabendo eu, como noventa e seis por cento da população mundial, que as crianças retidas na gruta miraculosa eram tailandesas, acabei por escrever um artigo (saído há uma semana) em que lhes chamei indonésias. Mais, nomeei Indonésia, no título, no interior da notícia, e até deu para arranjar capital nem mais nem menos que … em Jacarta. Marcar um golo na própria baliza, perdendo o jogo a um minuto do fim; passar um sinal vermelho, frente à Brigada de Trânsito da GNR; esquecer de entregar um euromilhões que se vem a saber premiado, transmitem, a quem lhe calhar a fava, a mesma impressão que a troca da Tailândia pela Indonésia fez por mim: uma verdadeira vergonha. Afinal, já os tinha chamado tailandeses uma semana antes. Nem sequer é uma daquelas questões em que critico os estrangeiros, ao não fazerem diferença entre espanhóis e portugueses, só para lhes fornecer um exemplo, ou género não se saber situar a Hungria no mapa; é muito pior do que isso é uma hecatombe. Afinal sou professor de Geografia. Terá sido mais uma das situações em que leio uma coisa e penso noutra, pensando que estou a pensar na primeira. Por isso e mais uma vez, as minhas mais sinceras desculpas. Agora também não sei se desejam que me corte às postas esvaindo-me em sangue, como forma de expiar os meus pecados, ou que me atire da janela de um rés-do-chão para a rua: qualquer que seja a natureza do vosso pedido, aqui estou eu, estoico, de braços caídos e coberto de enganos, pronto a pagar vinte flexões.
Portugal perdeu mais uma vez contra a Espanha em hóquei em patins, desta vez a final do Campeonato da Europa. Há trinta e um anos que não vencemos a Espanha em terras de Castela e pelo que vi, vamos passar outros trinta anos sem lhes ganhar. Rezam as crónicas (por que eu só vi uns bochechos do jogo) que jogámos melhor, ou pelo menos tão bem como eles, mas mais uma vez fomos de cana, e com uma goleada das antigas. Os espanhóis dizem que o hóquei sobre patins é um desporto que se pratica num país (Portugal), numa região (Catalunha); numa cidade (Milão, praticamente todo o campeonato italiano se disputa lá) e num bairro (Boca, Buenos Aires, Argentina): ou seja (apesar dos exageros), não é coisa que interesse e muita gente. Estava eu a dizer que mais uma vez tivemos uma vitória moral. Fomos melhores, mas no final ganham os espanhóis. Mais ou menos como os alemães do futebol, para Gary Lineker. Agora também vos confesso o seguinte: sem seguir religiosamente o hóquei tenho uma ideia dessas derrotas portuguesas e a conversa foi sempre a mesma. Somos quase sempre melhores, mas perdemos por que um dia foi o guarda-redes deles que defendia tudo, outra noite foi o nosso que não defendeu nada; o árbitro quase sempre desfavorável; o poste; o campo a descair, a humidade. Qualquer razão serve para nos suavizar a derrota. Até percebo, mas no fundo não percebo.

Fernando Proença

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