Avarias: Um pouco das minhas embirrações

A sério que, quase todos os dias e um bocadinho de cada vez, lá vou vendo os noticiários dos canais generalistas, agora que passaram as eleições. Os dirigentes dos partidos com maus resultados (sei que é sempre uma coisa relativa, mas qualquer um de nós não precisa de um doutoramento em resistência dos materiais, para perceber onde é que esteve a fraqueza), já aprenderam a não dizer sempre que ganharam – afinal de contas existem departamentos de comunicação em tudo quanto é sítio – mas ainda não resolveram bem o modo de autojustificar os maus resultados.

Alguém antes de mim notou que os dirigentes do PCP e do BE (penso que se passará o mesmo com o Chega e IL, quando chegar o tempo das – suas – vacas magras, que o PAN já mostrou sofrer do mesmo mal), fizeram, fazem e fazerão (como se diz na anedota) uma inflexão pelos horríveis resultados que obtiveram e salvam o pelo. Aquilo agora, são palavrinhas mansas sobre como as suas excelentes propostas só por um grande bambúrrio, não colheram as boas graças dos tugas. Mas no PCP e BE a questão fia mais fino que nos restantes.

Aqui o que está – agora aqui vai a minha homenagem à expressão parva do momento – em cima da mesa, o que para esses dirigentes representa o verdadeiro motivo que os leva a andar na política, será a superioridade moral de quem quer verdadeiramente o melhor para o país. Se dúvidas existissem, bastavam as declarações de Catarina Martins ainda ontem (a contar do dia em que escrevo), que respondia à pergunta habitual, “com resultados destes, porque não se demite?” e que acabou a responder, “um partido de esquerda sabe o que é melhor para o povo e isso não obedece aos ciclos eleitorais”, que é, basicamente, o que escrevi atrás.

Os outros partidos, cuja vida política dos dirigentes se faz depender dos resultados, veem a política como táctica e estratégia e não como missão e é sobre este sofisma que BE e PCP repousam a cabeça quando querem pensar sobre os problemas do mundo. A ideia de que o escrutínio é apenas um pormenor, numa linha política que sabem ser justa, mostra bem o espírito que está subjacente a este pensamento: nós sabemos o que andam a tramar nas costas do povo (sobre isto existe uma anedota, politicamente incorrecta, que não vou revelar, mas que mete preferências sexuais e URSS), somos os melhores e mais justos e só por manifesta ignorância ou distração o povo não adere.

Mas com o tempo as coisas vão acertar, como se alinham os chacras, data em que o proletariado tomará o poder. Afinal de contas não está mal pensado, porque nestes partidos (Chega também), a política tende a ser vista como religião e como se sabe as religiões não dependem de resultados, como saberá melhor do que eu o padre Louçã. Sobre este problema e sabe-se lá porquê, vem-me à lembrança a anedota em que a senhora (pode ser homem), que viaja na auto-estrada, recebe um telefonema do marido (mulher na outra versão. Outras versões estão disponíveis), que lhe diz haver um automóvel em contramão na auto-estrada onde esta viaja e que obtém como resposta: “Um?, dezenas!!”

Fernando Proença

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