AVARIAS: Uns bravos

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Vejo uns tugas que esperam o avião da selecção nacional, vinda do ex–país dos sovietes. Um paizinho com o seu repectivo rebento à espera que os jogadores cheguem, o miúdo desenrascado, dizendo ao que vem, e o pai explicando porque razão vêm ver os jogadores, dizendo que é para manter o “contato” com quem enverga a camisola das quinas. O “contato” é uma das coisas que ficou errada, avariou-se, depois do último AO: ou seja, podem dizer que cá o mister, devia estar calado, afinal não escrevo segundo as regras, ou pelo menos não escrevo inteiramente segundo as regras (tirando os erros). A questão é que mudaram as regras e à boa maneira portuguesa, muda o que deve e o que não deve.
A palavra rainha nestas barracas é sem dúvida “fato” que muitos tugas preferem, erradamente a “facto”, talvez pelo pendor que temos em abrasileirar uma carrada de coisas, teima que nos ficou a partir de consumos desmesurados de telenovelas da “Globo”. Em português de Portugal, fato ainda continua a ser o que vestimos quando vamos inaugurar um chafariz e somos secretários de Estado. Já “Contato” é a palavra que para os tansos substitui “contacto”, que devia permanecer inalterável, pela simples razão que se lê o cê antes do tê. Os meus caros quatros leitores dirão que não estou a dizer nada que seja novo: estou, porque já tinha lido o erro “contato” mas foi a primeira vez que o ouvi, dito e escarrapachado. Ainda por cima pronunciado por alguém que aparentava estar a explicar gramática ao filho. Está mal!
Também me pareceu incrível que a larga maioria dos portugueses entrevistados no período pré-jogos do Mundial da Rússia tenha declarado aos quatro ventos que esperava que Portugal ganhasse, mas depois de um “grande sofrimento”. Aparentemente, para a maioria do bravo povo que habita este canto junto ao mar, selecção rima com “grande sofrimento”. Que raio de equipa é esta? Que raio de forma é esta de ver as coisas? Ver jogos para sofrer é e a mesma coisa que encher o prato de picante e dizer que se vai morfar, aquele guisado de lulas, mas vai custar muito, muito, suando por todos os poros e mais alguns. É, sofrendo sempre, seja contra a Espanha, seja contra a Lituânia, que nós estamos, dentro e fora do campo?
Em geral, os comentadores referiram-se ao Portugal – Uruguai, como sendo o jogo em que não ganhámos, mas que deixámos tudo dentro do campo, quais guerreiros que dão a vida pela nação. Discordo desta posição. Portugal é muito bom mas não merece a vida de ninguém. Se é retórica, então tiro já o meu cavalinho da chuva, mas os mesmos comentadores que enalteceram a brava dança dos nossos heróis, logo se descoseram. Disseram, “jogámos contra uma nação guerreira”, em que um dos jogadores do seu meio-campo, medindo metro e meio, aparentava chagar aos três metros de altura, tal era o pundonor posto em campo. Afinal de contas, parece que não somos tão guerreiros assim…

Fernando Proença

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