Avarias: Vou ali e já volto

Palavra de honra que não era minha intenção voltar à vaca fria dos noticiários matinais da RTP1, mas é o que dá uma pessoa levantar-se cedo – de repente lembrei-me de uma frase que se dizia, pelo menos em Olhão, nos meus longínquos tempos de juventude, ” levantei-me cedo para almoçar” , que mostra bem como se processava a coisa naquela altura. Bom, se um gajo quer saber a quantas anda e não tem por hábito ver os canais de notícias, há opções piores (mas não muito) que ver o noticiário da manhã da RTP1. Tem uns repórteres de exteriores muito sigilosos, que procuram in loco saber do sentir do povo perante mais uma greve do metropolitano ou da Transtejo, e além disso está-se no sítio certo para ver, como diz um dos apresentadores – sessenta vezes sobre sessenta emissões, mais previsibilidade só o piscar de olhos de José Rodrigues dos Santos no final do telejornal da noite – “a mosca mais famosa de Portugal”, o que não é dizer pouco. Além da mosca (nem sempre bem, mas é difícil produzir um cartoon com piada por dia: sei do que falo, às vezes custa-me pegar no computador para dizer quatro ou cinco larachas por semana…), temos também o Minuto Verde. O Minuto Verde serve hoje, entre outras coisas, de veículo publicitário para empresas que usam tudo (sobretudo a sua ligação ao universo da economia sustentável) e mais alguma coisa para vender. O capital apropriou-se do ecológico e daqui para a frente, vamos levar com o quer nos quiserem impingir, ficando deprimidos quando não podemos comprar o último automóvel eléctrico, a quarenta e cinco mil euros a unidade, esperando meia hora que carregue, cada trezentos quilómetros andados. E a estratégia – de quem vende – baseia-se em sentirmo-nos culpados de qualquer coisa que tenhamos feito menos bem, no cardápio das atividades diárias. Para almejar o céu, a ideia é fazer de cada um de nós, um “ativista”, assim uma espécie de escuteiro dos tempos modernos, sem vontade de se levantar de manhã, porque viver não é sustentável. Outro dia o busílis da questão era as cápsulas de café que, em geral, não têm quem faça o serviço de reciclagem ou lá o que é. Para isso é necessário (pelo menos para o programa Minuto Verde), deixarmos de beber café de cápsulas e passar a saborear o antigo café de cafeteira, que, lembro-me é bastante bom (quando o é), mas por mim, passo. A questão que ponho, é que no fundo o que me fica é que esta gente, sob a capa de uma espantosa modernidade vê o mundo a preto e branco. Até há três /quatro anos estava tudo bem, agora (por causa das alterações climáticas), está tudo mal, apesar de reciclarmos cada vez mais e a nossa civilização (falo da ocidental) estar a reduzir drasticamente a quantidade de carbono que pomos na atmosfera. Calma meus amigos, as coisas têm o seu caminho e não adianta entrar em histeria, alguma coisa se há-de arranjar. Agora, acabo isto e vou ali à cozinha beber um cafezinho de cápsula.

Fernando Proença

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