Banhistas sem medo das arribas instáveis e imprevisíveis

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Nas praias classificadas “de uso limitado”, como a praia do Camilo (Lagos), um desmoronamento poderá afetar todo o areal. Mas os veraneantes ignoram os avisos

 

Após a tragédia que vitimou cinco pessoas numa praia de Albufeira, em agosto de 2009, passou a ser obrigatória a sinalização de todas as zonas costeiras com situações de risco para os utentes. Ainda assim, muitos banhistas continuam indiferentes aos avisos e a ignorar o perigo, mesmo nas 12 praias algarvias de “uso limitado”, onde o risco de desmoronamentos é elevado e imprevisível neste verão

 

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Seis anos depois da derrocada na praia Maria Luísa, em Albufeira, na qual morreram cinco pessoas e três ficaram feridas, os perigos continuam à espreita, uma vez que as zonas de risco – que correspondem à área passível de ser ocupada pelos resíduos de desmoronamentos, com largura igual a 1,5 vezes a altura da arriba – continuam a ser ocupadas.

Segundo apurou esta semana o JA, esta situação acontece mesmo nas praias mais perigosas, que foram classificadas de “uso limitado”, que estão devidamente sinalizadas com painéis informativos junto aos acessos. Algumas delas foram alvo de derrocadas controladas no último ano, mas ainda assim apresentam arribas instáveis e riscos para os utentes.

Neste verão de 2015, o Algarve apresenta 12 praias de “uso limitado”, num total de 27 em todo o país, conforme foi publicado em Diário da República, no passado mês de maio. São elas as praias da Arrifana (Aljezur), Caneiros, Carvalho, Tremoços, Marinha e Vale Centeanes (Lagoa), Camilo e D. Ana (Lagos), Prainha (Portimão) e Beliche, Castelejo e Tonel (Vila do Bispo).

Estas praias foram classificadas “de uso limitado” porque, em situação de maré-alta, a maior parte do areal fica ocupado pela área de risco das arribas. Ou seja, em caso de desmoronamento, todo o areal poderá ser afetado por resíduos de rochas. E o número de vítimas, por estes dias, poderá ser muito elevado.

Mas o problema das arribas instáveis não se resume a estas doze praias algarvias. Ao todo, existem cerca de 75 praias em toda a região (na zona do barlavento) que apresentam áreas de risco, que muitas vezes são ignoradas pelos banhistas que procuram uma sombra para se abrigarem do sol… diante de uma enorme parede instável!

“Se ainda não caiu, não é hoje que vai cair”

Tal como o JA constatou esta semana, alguns destes banhistas chegam a estender a toalha mesmo debaixo da sinalização, que começou a ser fixada logo depois da tragédia na praia Maria Luísa, em 2009.

Desde então, todas as praias de uso limitado e com zonas de risco estão identificadas com painéis informativos. Esta sinalização indica se há perigo de desmoronamento, queda de blocos de arribas ou zonas interditas.

Como referimos, estes sinais, apesar de estarem bem visíveis, continuam a ser menosprezados por muitos veraneantes. E nem as coimas fixadas (entre 30 e 100 euros) parecem afastar os banhistas das arribas.

Se muitas pessoas ouvidas pelo JA reconhecem que o perigo de derrocadas nas praias algarvias existe e é real, outros há que fazem comentários irónicos e ridicularizam “o alarmismo” dos sinais.

“Se a falésia ainda não caiu até agora, não é hoje que vai cair”, diz o mais falador de um grupo de cinco amigos que decidiram estender as toalhas debaixo da arriba da praia do Camilo, em Lagos.

Nesta pequena praia, nos meses de julho e agosto, chegam a estar mais de 300 banhistas amontoados no areal. E está à vista de todos que a arriba está em constante transformação e muito instável, sendo esta uma das 12 praias algarvias de “uso limitado”. Por isso, o único acesso à praia do Camilo tem uma placa em tons amarelos e vermelhos que alerta para o risco de desmoronamento. Apesar disso, os turistas portugueses e estrangeiros não ligam a este sinal preventivo e estendem-se ao sol mesmo na base da arriba…!

E isto acontece, de resto, na generalidade das 75 praias que apresentam perigo de derrocada no Algarve, pois parece que os veraneantes têm alguma dificuldade em perceber os avisos.

Aprender a lição da tragédia na praia Maria Luísa

A Agência Portuguesa do Ambiente enumera, na sua página na internet, uma lista das praias algarvias cujas arribas estão em risco, sendo o concelho de Albufeira aquele que mais apresenta este problema, num total de 24 praias.

O concelho de Lagoa surge na segunda posição com 17 praias sinalizadas, seguido de Vila do Bispo (11), Portimão (9), Aljezur (7), Lagos (5) e Silves (2).

Face à dimensão do problema, e nunca esquecendo a lição tirada após a tragédia na praia Maria Luísa, o município de Albufeira está a promover novamente uma campanha de sensibilização sobre os perigos das arribas.

Esta iniciativa, que se realiza nos meses de julho e agosto, chama-se “Faça praia em segurança – afaste-se das arribas!” e é da responsabilidade da proteção civil de Albufeira, em parceria com a autoridade marítima, polícia marítima e associação de nadadores salvadores de Albufeira.

Amanhã, dia 10 de julho, curiosamente, a iniciativa passa exatamente pela praia Maria Luísa. “A campanha consiste na distribuição de folhetos bilingue (português e inglês) destinados a informar os banhistas sobre os principais perigos das arribas, alertando para as melhores formas de os prevenir e combater, ao mesmo tempo que se aconselha a respeitar a sinalização existente nas praias”, explica a proteção civil, admitindo que ainda há um grande trabalho de sensibilização a fazer para mudar a mentalidade de algumas pessoas.

 

Nuno Couto/JA

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