Berlusconi provoca vaga de subida no risco

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O anúncio de que o primeiro-ministro italiano Mário Monti se demitirá depois de aprovado o Orçamento para 2013 levou à subida do risco de incumprimento em todos os periféricos da zona euro. No mercado secundário, a maior pressão centrou-se sobre Itália e Espanha.

O anúncio de que Mário Monti, o “tecnocrata” que substituiu Sílvio Berlusconi como primeiro-ministro de Itália em novembro de 2011, tenciona demitir-se logo que o Orçamento de Estado para 2013 esteja aprovado, provocou esta segunda-feira uma vaga de subida no risco de incumprimento dos países “periféricos” da zona euro.

Monti viu-se obrigado a tomar a decisão de resignar, provocando a antecipação de eleições legislativas de abril para fevereiro do próximo ano, depois do partido de Berlusconi, o Popolo della Libertà, lhe ter tirado o tapete em votações na semana passada quer na Câmara de Deputados como no Senado. Monti ganhou as votações, mas o partido de Berlusconi, o com maior representação parlamentar, absteve-se.

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Os dois países mais afetados por este acontecimento político, tendo em conta o conjunto dos indicadores ligados à dívida, foram Itália, e Espanha. O risco de incumprimento da dívida italiana num horizonte de cinco anos subiu para 22%, depois de ter fechado em 20% na sexta-feira e de há uma semana se situar em 18%, segundo dados da CMA DataVision. No caso da dívida espanhola, aquele risco subiu de 20,88% em 3 de dezembro para 23% em 7 de dezembro e 23,49% no fecho de hoje. O mesmo movimento de pressão se verificou no mercado secundário com as yields das obrigações italianas e espanholas em todas as maturidades a fecharem em alta, segundo dados da Bloomberg.

Ministro espanhol admite que subida do prémio de risco pode levar ao resgate

O prémio de risco (diferencial em relação ao custo de financiamento da dívida alemã) subiu para 3,51 pontos percentuais no caso de Itália e para 4,26 no caso de Espanha. Há uma semana atrás, o prémio de risco fechara em 3,04 e 3,84 pontos percentuais respetivamente.

Com este nível de prémio de risco no caso espanhol, acima de 4 pontos percentuais – patamar em que já fecharam na sexta-feira passada -, o ministro da Economia, Luís de Guindos, declarou à Rádio Nacional de Espanha que é “difícil financiar-se corretamente”. E se essa dificuldade se consolidar em 2013, não restará outra saída senão o pedido de um resgate total. O Tesouro Público espanhol emite bilhetes do Tesouro amanhã e obrigações a 3, a 5 e a 28 anos na quinta-feira – este último leilão será seguido com grande atenção pelos investidores e analistas internacionais.

No entanto, a onda Berlusconi atingiu, também, a Irlanda, cujo risco de incumprimento subiu de 12,2% há uma semana para 16,41% na sexta-feira passada e 17,2% no fecho de hoje. No caso de Chipre, o risco agravou-se de 46,78% na sexta-feira para 46,94% no fecho de hoje, mas este nível de risco mantém-se abaixo do verificado há uma semana atrás. Também o risco da dívida grega se agravou ligeiramente, mas as yields dos seus títulos a dez anos reestruturados em março atingiu o valor mínimo já abaixo de 13% – fechou hoje em 12,5% abaixo dos 13,16% de sexta-feira passada.

Durante esta semana, os dossiês grego e cipriota terão um momento decisivo. A recompra de dívida grega vai estender-se até ao final da manhã de terça-feira para que o objetivo de 30 mil milhões de euros seja atingido plenamente por Atenas e será analisada na reunião do Eurogrupo (17 ministros das Finanças da zona euro) de quinta-feira. Nessa reunião serão, também, analisados os termos do memorando do entendimento a assinar com o governo de Nicósia.

Risco português sobe quase 2 pontos percentuais

Portugal viu o risco de incumprimento num horizonte de cinco anos agravar-se, subindo de 32,39% no fecho de sexta-feira para 34,19% no fecho de hoje. Há uma semana atrás estava em 31,93%. No entanto, o prémio de risco manteve-se idêntico ao de sexta-feira, em 6,26 pontos percentuais e o movimento nas yields das obrigações do Tesouro no mercado secundário foi “misto” – subiu nos prazos a 2 e a 10 anos, e desceu nos a 3, 5 e 7 anos.

O fosso entre os “periféricos” e as duas principais economias da zona euro – Alemanha e França – no campo do mercado da dívida continua muito visível. As yields dos Bunds, as obrigações alemãs, continuam em terreno negativo nos prazos a dois e a três anos e as yields das obrigações francesas a 5 e a 10 anos marcaram novos mínimos.

Jorge Nascimento Rodrigues (Rede Expresso)
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