Brincadeiras no rio mudam vida de crianças em risco

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Cerca de noventa crianças e jovens vítimas de abandono, negligência, maus tratos ou expostos a comportamentos desviantes participam no projeto “Rios de Adrenalina”. Na iniciativa – promovida pela junta de freguesia e Clube Naval de Portimão – os mais novos têm a oportunidade de experimentar pela primeira vez a vela e a canoagem no rio Arade. A ideia é transformar a vida destas crianças e adolescentes que vivem em situações de risco

Márcio, de dez anos, é uma criança sorridente e feliz. Pelo menos assim deixa transparecer à primeira vista. São quase 15h00 e o rapaz mal pode esperar para entrar na água do rio Arade, junto ao Clube Naval de Portimão.

O menino é uma das 90 crianças e jovens, com idades compreendidas entre os oito e os quinze anos, que participam este ano no projeto “Rios de Adrenalina”, uma iniciativa que já tem cinco anos e resulta de uma parceria entre a junta de freguesia de Portimão e o clube naval.

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“O projeto visa promover atividades lúdicas de contacto com a natureza – neste caso a vela e a canoagem – junto de crianças e jovens que estão inscritos em instituições e que não têm possibilidade de viver estas aventuras de outra forma”, explica a presidente da junta, Ana Figueiredo.

A autarca adianta que muitas destas crianças vivem em ambientes familiares de risco, marcados por problemas como o alcoolismo, a violência doméstica, maus tratos e abandono escolar, sendo que “muitas estão a ser acompanhadas pela Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) de Portimão”, onde estão assinaladas mais de 200 crianças em risco.

A junta de freguesia “recrutou” ainda adolescentes de outras instituições sociais, como o Centro de Acolhimento Temporário para Menores em Risco (CATRAIA), o Centro de Apoio à População Emigrante de Leste e Amigos (CAPELA), a Casa Nossa Senhora da Conceição, que dispõe de um lar residencial para crianças em situações de risco e abandono familiar, assim como crianças em tratamento no centro de saúde.

“Pequena dádiva que não se esquece tão cedo”

“Esta é a primeira experiência de vela e canoagem para quase todos os miúdos. É uma grande alegria para eles”, acentua Ana Figueiredo, acrescentando que, se não tivessem esta oportunidade, “as crianças e jovens andariam pelas ruas a fazer disparates”.

De acordo com o presidente do Clube Naval de Portimão, João Vieira, o projeto “Rios de Adrenalina”, que decorre até 12 de agosto, está a conseguir mudar o comportamento das crianças. “O resultado está a ser muito positivo. Os avós, os pais e os encarregados de educação dizem que as crianças estão mais calmas e felizes, mesmo aquelas que não se davam com ninguém. Outros miúdos que eram mais violentos e irrequietos também estão mais sociáveis. Nota-se, de facto, uma grande mudança nestes jovens e tudo graças aos desportos náuticos e às brincadeiras no rio”, revela.

A verdade é que, olhando para o animado grupo de crianças e adolescentes a entrar na água e a fazer do Arade um campo de regatas, ninguém diria que estão referenciados como pertencendo a famílias em risco.

“A ideia deste projeto é promover a autoestima e incluir socialmente estas crianças, pois através do convívio e das atividades lúdicas elas podem melhorar a sua atitude perante a vida”, frisa a presidente da junta de freguesia.

Ainda de acordo com Ana Figueiredo, as aventuras de vela e canoagem no rio Arade “ajudam as crianças e adolescentes a terem melhores comportamentos, a melhorarem o seu desempenho escolar, bem como as suas relações com os amigos e a família”.

“Trata-se de um projeto que ajuda a transformar a vida destes jovens”, sublinha a autarca, salientando que “quem não tem nada e recebe uma pequena dádiva não se esquece tão cedo”.

“É uma iniciativa que vai marcar para sempre as suas vidas e que pode contribuir para mudar a sua maneira de viver”, refere.

Correr atrás dos sonhos

Para o presidente do clube naval, que desde os anos 90 acompanha a evolução do CPCJ de Portimão, o grande mérito do projeto é “os miúdos sentirem que têm as mesmas oportunidades que os outros meninos têm”. “Infelizmente, existem pais que não têm 20 ou 30 euros para pagar férias desportivas aos filhos”, lamenta João Vieira, frisando que o “Rios de Adrenalina” dá a oportunidade às crianças de correrem atrás dos seus sonhos, esquecerem por momentos a situação que vivem em casa ou nas instituições de acolhimento e incita-as a procurar um futuro melhor.

Por último, o presidente do Clube Naval de Portimão desmente que a vela seja um desporto elitista. “Pelo contrário, é uma atividade que pode ser praticada por qualquer criança ou adulto, independente da sua condição social. E a cidade de Portimão oferece condições extraordinárias para a prática dos desportos náuticos”, esclarece, adiantando que algumas crianças e adolescentes em risco podem vir a tornar-se potenciais velejadores.

Nuno Couto/Jornal do Algarve
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