Britânicos estão a salvar o ano turístico

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Com o pico da época balnear quase a fechar, o JORNAL DO ALGARVE foi esta semana à procura
dos últimos números do Turismo algarvio, mas também da conjuntura económica que os enquadra. Com a ajuda de especialistas e responsáveis do setor, acabou por obter um retrato fidedigno das visitas à região. Como era de esperar, os ingleses dominam o panorama. O que ninguém esperava é que nem o calendarizado Brexit lhes metesse travões. Pelo contrário, mesmo com Brexit, os súbditos de Sua Majestade salvaram as perdas assinaláveis dos mercados holandês e alemão

O crescimento da ocupação hoteleira por parte dos turistas do Reino Unido está a salvar o verão turístico algarvio, a braços com quedas acentuadas dos mercados holandês e alemão, de acordo com os últimos dados, referentes ao mês de julho, disponibilizados pela principal associação de empresas turísticas do Algarve.

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Segundo Elidérico Viegas, da AHETA (Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve), essa boa performance dos cidadãos britânicos na região deve-se em boa medida ao Brexit e no fim de contas, da forma como aquele país sair da União Europeia, “vai depender em grande parte a evolução do Turismo algarvio.


Em julho, o mercado irlandês foi o que apresentou a maior subida, com +13,7%, seguido pelo britânico (+6,4%), ao contrário dos mercados holandês (-17,5%) e alemão (-13,9%), que apresentaram as maiores descidas. Isto num conjunto de queda global de 3% de todos os mercados no mesmo mês, comparado com o mesmo mês do ano de 2018.

“A queda acentuada desses dois mercados não se aplica de igual forma a todas as zonas do Algarve, pois a distribuição geográfica dos mercados é desigual na região”, disse o dirigente associativo ao JA, explicando que os alemães se concentram no extremo barlavento e os holandeses no extremo sotavento, pelo que são as unidades hoteleiras dessas sub-regiões que mais se ressentem das quedas. Outras sub-regiões há em que essas quebras nem se fazem sentir com significado. (…)

O crescimento da ocupação hoteleira por parte dos turistas do Reino Unido está a salvar o verão turístico algarvio, a braços com quedas acentuadas dos mercados holandês e alemão, de acordo com os últimos dados, referentes ao mês de julho, disponibilizados pela principal associação de empresas turísticas do Algarve.
Segundo Elidérico Viegas, da AHETA (Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve), essa boa performance dos cidadãos britânicos na região deve-se em boa medida ao Brexit e no fim de contas, da forma como aquele país sair da União Europeia, “vai depender em grande parte a evolução do Turismo algarvio.

Em julho, o mercado irlandês foi o que apresentou a maior subida, com +13,7%, seguido pelo britânico (+6,4%), ao contrário dos mercados holandês (-17,5%) e alemão (-13,9%), que apresentaram as maiores descidas. Isto num conjunto de queda global de 3% de todos os mercados no mesmo mês, comparado com o mesmo mês do ano de 2018.
“A queda acentuada desses dois mercados não se aplica de igual forma a todas as zonas do Algarve, pois a distribuição geográfica dos mercados é desigual na região”, disse o dirigente associativo ao JA, explicando que os alemães se concentram no extremo barlavento e os holandeses no extremo sotavento, pelo que são as unidades hoteleiras dessas sub-regiões que mais se ressentem das quedas. Outras sub-regiões há em que essas quebras nem se fazem sentir com significado.

Turistas portugueses continuam a responder bem
Quedas que se devem ao fraco desempenho das economias daqueles países nos últimos meses (ambas as economias crescem atualmente abaixo da taxa portuguesa), mas também às elevadas temperaturas que se fizeram sentir no centro da Europa durante os meses de primavera e verão, em contraste com uma meia-estação e um início de época estival com temperaturas amenas e chuva em Portugal, o que desmotiva a saída para sul desses cidadãos, analisa Elidérico Viegas.

Um aumento de 2% nas taxas de ocupação por parte de cidadãos portugueses (o segundo mercado da hotelaria do Algarve) também ajudou a suster as quebras acentuadas dos dois mercados da Europa Central, que em matéria de importância numérica ocupam posições destacadas.
O sucesso relativo do crescimento do mercado britânico apesar de fatores como o Brexit, a desvalorização da libra e as altas temperaturas não se atêm, segundo o presidente da Região de Turismo do Algarve (RTA), ao adiamento da saída europeia do Reino Unido.
“Deve-se também a uma atitude pró-ativa que o Algarve e as entidades respon-sáveis pelo Turismo tiveram, pois fomos os primeiros a dar contributos para fazer face ao Brexit”, assinala João Fernandes em conversa com o JA.

Aponta a propósito medidas tomadas para obviar aos efeitos da saída britânica, como a isenção do pagamento das taxas de segurança da ANAC (Autoridade Nacional da Aviação Civil), que deveriam passar de três para 6 euros por turista (como ocorre com os chamados países terceiros, ou seja de fora da UE), mas se mantiveram.


“Vamos perder qualquer coisa” – Vítor Neto
Houve ainda o chamado “plano de contingência para o Brexit”, reuniões com britânicos no Algarve e campanhas promocionais, que permitiram o reforço das ligações aéreas a 25 aeroportos, sublinha o também presidente da Asso-ciação de Turismo do Algarve.
O trabalho a desenvolver no âmbito do Brexit é ainda insuficiente e carece de mais investimento, na opinião de Vítor Neto, presidente do NERA – Associação Empresarial da Região do Algarve e especialista em Turismo.
“Precisamos de desenvolver mais trabalho, um trabalho mais profundo e inteligente, com as famílias inglesas, para perdermos o menos possível, porque vamos perder qualquer coisa”, acentua ainda o ex-secretário de Estado do Turismo de António Guterres.
Trabalhar “para perder o menos possível” é, portanto, o mote de Vítor Neto, que vaticina a quebra do PIB (global e per capita) do Reino Unido, que conduzirá a um menor poder de compra e necessariamente a menos turismo no exterior.

De resto, Neto alerta para a armadilha de cair na “tese perigosa” da diversificação de origens, sustentando que não chega apenas diversificar mercados na sequência das perdas que o Brexit acarretará.
“É uma tese perigosa pensar ‘não vêm os ingleses, virão outros’”, releva. “A diversificação é importante, mas não se pense que ela só por si resolve um problema tão substancial como o peso dos ingleses no Turismo do Algarve”.
E vai recordando que os britânicos representam 40% do total de dormidas de estrangeiros, que no ano passado representaram 50% do total de passageiros do aeroporto de Faro e que no mesmo ano tivemos 5,5 milhões de turistas do Reino Unido no Algarve.

Observa que Portugal é o 5.º maior mercado do Reino Unido e o Algarve é, de longe, o maior mercado nacional de turistas ingleses. “Tem mais dormidas do que Lisboa e o Porto somados”, enfatiza.
Para fazer aquilatar da importância estrutural do mercado do Reino Unido, Vítor Neto compara o número de turistas britânicos do ano passado com o de 2001, que é “exatamente o mesmo”, os tais 5,5 milhões, e sublinha que as variações desde então (princípio do século) são quase inexistentes de ano para ano.

Moeda turca caiu para metade mas nem assim ingleses desistiram
Uma fidelização de mercado que para o presidente da ATA, João Fernandes, se deve à capacidade de resiliência da região face às conjunturas mais adversas e à sua oferta variada.
“Quando, por motivos de segurança, os cidadãos europeus trocaram outros destinos pelo sul da Europa, o Algarve soube agarrar esses novos visitantes e fidelizar esses públicos”, sustenta, observando que essa fidelização vai além das razões concorrenciais e do fator preço.
Depois dessa crise de insegurança no Médio Oriente, de que se destaca o triângulo Egito/Tunísia/Turquia, esses destinos retomaram grande parte do seu poder atrativo, com o extra de terem preços mais baixos, mas “o poder do Algarve manteve os seus níveis de atratividade, não se ressentiu”, sublinha João Fernandes.

Exemplifica essa capacidade de resistência algarvia com o caso turco: “Houve um período recente em que a lira turca caiu 45% e a libra britânica baixou 15% face ao euro. Isto é, por um lado os ingleses perderam valor na viagem à Europa e por outro lado, ainda por cima, ganharam valor para a Turquia. Mas o Algarve resistiu”, reforça.
Como fatores determinantes explicativos desse poder atrativo, Fernandes evoca a “souplesse” do Turismo algarvio: “Temos o Turismo de natureza, o Turismo de negócios, o Turismo náutico, temos uma oferta que transcende o verão e se prolonga pelo ano inteiro. O que estamos a dizer aos britânicos é ‘venham para o golfe, venham para as praias, venham ser turistas residenciais’, mas dizemos também que temos 40% de território ambientalmente protegido, temos cascatas no interior, é possível fazer um bocadinho de tudo no Algarve. E isso tem dado resultado”.

“Nós nunca vamos ter capacidade de competir com os colossos mundiais em preço”, sustenta o presidente da RTA, evocando o que designa como “luxo autêntico”, isto é, “luxos” bem algarvios como passear de barco na Ria Formosa, apanhar ostras, fazer pesca de mar ou praticar sky diving e parapente.
Ou simplesmente conviver com o povo simples entre o barrocal e a serra, ou sair de madrugada de um festival gastronómico “em segurança, sem precisar de olhar por cima do ombro”.
Para ilustrar o gradual esbatimento da sazonalidade algarvia que tem sido conseguido por estes prosaicos “luxos” algarvios, para lá dos calores de julho e agosto, o responsável máximo pela promoção junto dos visitantes sinaliza que em outubro de 2018 houve mais passageiros no aeroporto de Faro do que em agosto de 2015, graças a um fenómeno turístico que é conhecido como shoulder sea-son (época-ombro): as épocas de meia-estação que enquadram o verão, de abril até meados de junho e depois os meses de setembro e outubro. Mais gente no outono que no pico do verão, portanto. Um ombro forte.

A “bênção” ibérica do Algarve
Ainda que sem conseguir destronar os ingleses, mercados como o francês e o italiano têm registado subidas acentuadas no conjunto de dormidas da região, com este último a responder com um crescimento de 70% entre maio de 2018 e maio de 2019.
João Fernandes considera “uma bênção” a atratividade que a região exerce sobre os mercados mais próximos, Portugal e Espanha.
Explica que esses mercados, num efeito económico conhecido e analisado, exercem um “efeito-tampão” quando as economias do Norte da Europa perdem o seu ímpeto e os cidadãos desses países viajam menos para Sul, como agora ocorre com holandeses e alemães.
É nessas alturas que, também forçados por menores crescimentos económicos de conjuntura, esses povos fazem Turismo de proximidade, esbatendo o menor número de visitas dos turistas de origens mais longínquas.

Fernandes ressalta a propósito a importância afetiva do Algarve para os espanhóis, exemplificando que a região “está para a Galiza como está o Norte de Portugal”. E é amado com uma afetividade surpreendente pelos habitantes da Estremadura espanhola.
Com 113 mil camas classificadas e 126 mil camas em regime de alojamento local (fora os muitos milhares de camas clandestinas, de “alugueres avulso”), a região mais setentrional do País foi responsável por 34,1% das dormidas turísticas em Portugal nos seis primeiros meses de 2019, de acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) saídos na passada semana.
Mas mais importante do que as taxas de ocupação é o acréscimo de valor, que atinge taxas percentuais bem mais elevadas: até junho, os proveitos totais subiram 7,6% e os proveitos de aposento aumentaram 7,3% no total do País, de acordo com o mesmo boletim do INE. O Algarve não deverá divergir do panorama nacional.
Vítor Neto não se cansa de frisar a importância do Algarve para o Turismo português e do Turismo para a economia: “A balança comercial de bens e serviços seria negativa sem o Turismo”, frisa, recordando que o Turismo vale 12,5% do PIB português.

O otimismo pessimista de Vítor Neto
O ex-governante diz-se otimista, mas no seu discurso há alguns laivos de pessimismo, baseado num saber de muita experiência feito: “Nos últimos anos viveu-se um clima de euforia e nós chegámos a pensar que era sempre assim. Mas não é bem assim. Em 2018 o crescimento já apresenta contradições e 2019 foi um ano moderado, com alguma consolidação, mas já há vários sintomas de que não vamos crescer como nos últimos anos”.

Sustenta que não devemos ficar “naquela posição que é típica, do ‘isto há-de passar, isto volta tudo a correr bem’. Não volta”, enuncia, sublinhando a complexidade do Turismo e a necessidade de estar atento às mais pequenas mudanças e sinais, agindo “com inteligência”.
“É muito fácil marcar pontos quando os números estão a crescer, porque até parece que a estratégia está certa, mas não é bem assim”, alfineta Vítor Neto, alertando para a fragilidade de uma estratégia “só no papel”.
Sustenta que o Algarve tem todas as condições para ser um caso de sucesso, mas “não pode navegar à vista e ir na onda”.
Mas, alfinetadas à parte, não critica diretamente os responsáveis pela promoção do Turismo algarvio e da qualificação do destino, responsáveis (RTA e ATA) que, assinala, “estão a fazer um bom trabalho”.

“A queda acentuada desses dois mercados não se aplica de igual forma a todas as zonas do Algarve, pois a distribuição geográfica dos mercados é desigual na região”, disse o dirigente associativo ao JA, explicando que os alemães se concentram no extremo barlavento e os holandeses no extremo sotavento, pelo que são as unidades hoteleiras dessas sub-regiões que mais se ressentem das quedas. Outras sub-regiões há em que essas quebras nem se fazem sentir com significado. (…)

Sobre fecho Ryanair: Negociações continuam, nada é definitivo ainda

O presidente da Região de Turismo do Algarve, João Fernandes, disse esta semana ao JA que prosseguem as negociações com a Ryanair acerca do fecho da base daquela companhia low cost no aeroporto de Faro.

“Ainda não se pode falar em definitivo de fecho, pois as negociações prosseguem e não há uma decisão final”, disse, sublinhando que as reuniões decorrem com a liderança da entidade que gere as infraestruturas aeroportuárias, a ANA, mas com a participação ativa da RTA.


Desde que foi anunciada a intenção de fechar a base, há cerca de duas semanas, têm vindo a ser mantidos contatos entre várias entidades para obviar aos efeitos do encerramento, previsto para janeiro de 2020, que deverá levar ao despedimento ou deslocalização para outras bases das cerca de 100 pessoas que trabalham na estrutura.

João Fernandes destaca os contatos com o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), que estão alerta para a necessidade de providenciar rapidamente as prestações sociais dos trabalhadores que poderão ficar em situação imediata de desemprego, que poderão ser cerca de 50.
Um fecho que poderá não implicar o fim de algumas das 24 rotas atuais da companhia a partir de Faro. O que, na opinião de João Fernandes, poderá acontecer é um reajustamento das rotas, para que as tripulações da Ryanair não tenham de pernoitar em Faro, como acontece atualmente, mas “não está em causa a operação”.

Sobre o assunto, o presidente da AHETA, Elidérico Viegas, mais do que criticar a atuação da companhia, critica a atitude das autoridades portuguesas: “Quando damos contrapartidas pela instalação destas infraestruturas devemos receber garantias de que serão acautelados os nossos interesses”, afirma.
Sublinha que “não é legítimo essas companhias receberem contrapartidas financeiras e depois decidirem este tipo de ações sem diálogo e a seu bel-prazer”.
“Mais tarde ou mais cedo vai haver redução dos voos, por muito que digam que não”, sustenta Elidérico Viegas.

Vítor Neto, presidente da associação empresarial NERA, recorda que as companhias low cost “não são agências beneméritas”, pois “procuram o lucro e selecionam os seus cortes de despesa naquilo que lhes interessa”.
Reforçando o seu apelo de sempre a “pensar o Turismo” com rigor científico e inteligência, sublinha que “acidentes de percurso” como o fecho da base da Ryanair e o Brexit “não podem ser vistos como coisas pontuais e que passam”.

João Prudêncio

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