Caixas negras do futuro devem ejetar-se em caso de acidentes aéreos

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O desastre do voo MS804 da EgyptAir a 19 de maio, cujas circunstâncias continuam por apurar até as equipas de busca conseguirem resgatar do mar Mediterrâneo as caixas negras do avião, veio dar força à proposta de que, no futuro, essas caixas possam ser ejetadas automaticamente do aparelho aéreo em caso de acidente, tornando mais fácil detetar onde caíram e recuperá-las para analisar o seu conteúdo.

A sugestão já tinha sido apresentada pela Airbus, a fabricante do modelo A320 envolvido no acidente de há duas semanas, quando um voo da companhia EgyptAir desapareceu dos radares em rota de Paris para o Cairo com 66 pessoas a bordo, incluindo três crianças e um cidadão português.

As caixas negras estão concebidas para emitir sinais acústicos durante 30 dias após um desastre, dando às equipas de buscas menos de cinco semanas para conseguirem localizar o som nas águas a até três mil metros de profundidade. Só em 2018 é que as novas regras sobre o funcionamento e desenho das caixas negras, que ditarão uma maior duração desses sinais acústicos, vão entrar em vigor. A isso, defendem engenheiros, deve acrescentar-se a possibilidade de as caixas serem ejetadas do voo em caso de desastre.

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“Se tivermos máquinas de registo que sejam ejetadas, isso fará com que seja muito mais fácil encontrá-las”, defende Charles Champion, vice-presidente executivo para o setor da engenharia da Airbus, citado pelo “The Guardian”. “Temos estado a trabalhar nisso e [o acidente com o voo MS804] só reforça a nossa abordagem.”

De acordo com os especialistas, em caso de acidente aéreo as caixas negras separar-se-iam automaticamente da cauda do avião durante o desastre, flutuando na água enquanto emitem os sinais de emergência que os investigadores procuram nestas situações.

Esta recomendação já tinha sido feita pela fabricante após um Airbus A330 da Air France se ter despenhado em 2009 e novamente em março de 2014, após o desaparecimento do voo MH370 da Malaysia Airlines.

Há muito que este tipo de caixas de registo ejetáveis é usado em aviões militares, mas não na aviação comercial. Recentemente, a Organização Internacional de Aviação Civil, da ONU, exigiu que cada fabricante de aviões comerciais apresente até 2021 formas de as informações vitais sobre os voos serem mais facilmente recuperáveis em caso de acidente. Isso poderá passar por esta medida sugerida pela Airbus ou por outras tecnologias em estudo, como o recurso ao streaming de dados.

Nos últimos anos, a Airbus discutiu com os reguladores de aviação a possibilidade de acrescentar caixas negras ejetáveis aos seus dois maiores modelos de aviões. A Boeing, por sua vez, é mais cética sobre o método, argumentando que já houve casos em que esse tipo de aparelhos falhou.

Ao contrário do que o nome indica, as caixas negras não são pretas, mas sim cor-de-laranja fluorescentes, estando muitas vezes cobertas por faixas refletoras para facilitar o trabalho dos investigadores que as procuram a seguir a desastres aéreos.

Cada caixa negra é, na realidade, composta por duas caixas. A primeira é responsável por gravar dados sobre o voo, como a variação na altitude e a direção seguida pelo aparelho aéreo, para além de quanto combustível tinham os tanques antes do desastre, se o autopiloto estava ligado ou desligado e os níveis de temperatura e pressão na cabine, sendo capaz de registar até 25 horas de dados. A segunda é um gravador de voz do cockpit, que não só grava as conversas dos pilotos e de outras pessoas que possam entrar na sua cabine como sons do motor, alarmes de emergência e outros alertas sonoros.

Joana Azevedo Viana (Rede Expresso)

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