A demissão de Marta Temido e a mudança de ministro serão, nas palavras de Ulisses de Brito “uma agravante que pode, sem dúvida, deixar o projeto do novo hospital central ‘na gaveta’”. E não apenas por estes motivos, prossegue: “O PS, nas últimas duas eleições, comprometeu-se com a construção do hospital central. Nada avançou. Agora, fala-se até da necessidade de um novo projeto, o que é mais uma forma de adiar a situação… E isto apesar de concordar que o projeto apresentado há quase dez anos já não está atualizado”, refere.
“Pelo que vejo e pelo andar da carruagem, com as muitas ‘desculpas’ que vão aparecendo, nem no final da legislatura vai haver projeto para construir o hospital, quanto mais dar início à construção”, ironiza. Para além disso, acredita que “nos próximos tempos vai começar a haver aquela disputa entre autarquias para ver quem oferece o melhor terreno”.
O pneumologista reconhece que “não é o novo hospital que vai resolver os problemas da saúde na região”. Contudo, acredita que é uma obra “que vai ajudar muito” porque “o Hospital de Faro está a romper pelas costuras há muito tempo”, recorda. Relativamente à hipotética falta de profissionais para prestar serviço no novo hospital, encara-a como “uma falsa questão” e explica: “As pessoas são atraídas também pelos novos projetos. Com as devidas condições de trabalho, há muita gente que se vai disponibilizar a vir”.
Daquilo que observa diariamente, a par da escassez de médicos e enfermeiros, “a falta de organização nos serviços é um dos grandes problemas da região, que não tem sequer condições para implementar um sistema de urgências intermunicipais”, através das quais os doentes se poderiam distribuir pelas diferentes unidades de saúde, consoante a especialidade e distribuição territorial dos médicos”, descreve.
Sobre a chegada do outono e o eventual aumento dos casos de covi-19 e da gripe, Ulisses de Brito diz que “tudo vai decorrer como tem decorrido todos os anos”, pois, tal como leu “algures” na imprensa, “agosto já é todos os dias’”, ironiza. De acordo com o especialista, “vão continuar a acontecer constrangimentos porque os recursos humanos são escassos e se não se resolverem os problemas de base tudo ficará igual. Vamos continuar a ter falta de pessoal e algumas unidades vão ter de encerrar”, antevê.
Gonçalo Dourado/Joana Pinheiro Rodrigues