CARLOS ALBINO

 SMS 451

Ele tem razão, carradas de razão

Os números aí chegaram com brutal frieza: o Algarve foi a região portuguesa com maior taxa de desemprego no último trimestre de 2011, além de, em função dos valores médios para o total do ano passado, o Algarve surgir também, com 15,6%, com a taxa de desemprego mais elevada do País. Os dados do Instituto de Estatística são calamitosos e dos deputados não se ouviu (de alguns ainda assim) mais do que chorarem sobre o leite derramado, nem dos chefes de estruturas se ouviu uma mosca. Quem ergueu a voz, voz que se ouvisse, foi Elidérico Viegas, dirigente da principal associação hoteleira algarvia. O resto ficou a olhar para a janela e para o lado, como o maquinista do Intrercidades à espera do apito do chefe de estação.

Elidérico Viegas tem razão, carradas de razão, ao referir com clareza e sem subterfúgios, que, para além das causas imediatas do desemprego (descida das taxas de ocupação dos estabelecimentos hoteleiros e diminuição das receitas da atividade de longe dominante no Algarve), a falta de competitividade do Turismo é um mal de raiz cujas causas são a queda da procura e a dificuldade em competir com destinos concorrentes, designadamente Espanha, Turquia e países do Magrebe. E, embora não falando da qualidade dos serviços, acrescentou que não são os preços o busílis da questão mas sim outros fatores, exemplificando com os impostos e com as taxas aeroportuárias que são as mais elevadas da Europa, acrescentando nós que, se assim é, será mais um mealheiro pacóvio a juntar ao pacóvio mealheiro da A22 que estoirou ou está a estoirar os planos das pequenas empresas que resistem e dependem da mobilidade. E quanto ao chamado turismo interno, resumiu em duas penadas: os cidadãos nacionais viajam para o Algarve pura e simplesmente para ficarem em casa. Ou seja: não contam. Quando poderiam e deveriam contar.

É claro que sobre a ação sociocultural e sobre a promoção do turismo algarvio para efeitos deste turismo interno, o que haveria ou há para dizer daria um tratado e não cabe aqui. Mas ainda assim se diz que os grandes meios de comunicação e estruturas públicas determinantes, todos eles ancorados lá em cima, mais não têm feito que a delapidação da imagem do Algarve, por omissão e desvio de atenções, e de forma direta ou indireta mais não se exercitam que a desencorajar o Algarve como destino turístico – turístico, e não meramente de regabofe ou, noutros casos, de semi-executivos dormideiros que para aqui vêm com calções às florinhas.

Para emendar isto, seria necessário coragem e vontade política. A coragem política acaba no Caldeirão e a vontade não é coisa que se exija a filipes ou seja de esperar de filipes. Nisto, os algarvios são responsáveis mas essa é outra história.

Flagrante promoção: Mais fez a Volta ao Algarve em quatro dias na promoção mundial da região que a RTP em 50 e tal anos e não foi necessário desaparecer uma criança inglesa .

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1 COMENTÁRIO

  1. Suma Pauperis (Pobreza)

    Ontem `noite (22/2/2012)  fui ao Pingo Doce em frente ao Forum. Estacionei o carro, e quando me dirigia para a porta de entrada, encostada aos carros de supermecardo, fui surpreendido pela voz ciciada de uma mulher jovem, humilde, mas dignamente vestida pronunciando, ao ponto de ter de repetir a meu pedido: –  “dê-me alguma coisa para comer”. Estupefacto, fiquei sem palavras, e porque de facto não levava dinheiro vivo comigo, utilizando lingua gestual, abanei-me no sentido de fazer-me entender da ausência do dinheiro por ela mendigado.

    Entrei, fiz as compras, e na ideia bailava-me a imagem daquela jovem mulher envergonhada a pedir-me auxílio. Preparei-me para na saída a interpelar, questioná-la, e se sim, ajudá-la-ia. Mas já lá não estava. Reflexionando, rebobinando, a moça não parecia drogada, claro mas as aparências iludem, e nestes casos de drogados é conhecido a sua mitomania. Reforço a ideia de ela não parecer drogada. Parecia mesmo estar no limiar da pobreza (suma pauperis).

    Ao que nós já chegámos. E daqui para a frente como irá ser? Cai a noite e as estradas ficam desertas. Que angústias haverá para o jantar? Os supermercados estão a menos de meia-casa. Os carros de compras, foram substituídos pelos cestos de rodízios. Compra-se o mais essencial possível, o mínimo. E quando as crianças mostram vontade por alguma goluseima, houve-se o clássico “não”.

    Nasci no tempo da miséria (no final da 2.ª Guerra) dos estropiados de chagas expostas mendicando, uns pelas ruas outros de porta-em-porta, pelas escadas, pelos campos. Hoje tenho medo do retorno a esse passado. Não será igual, será diferente, mas será a miséria a perfilar-se no horizonte, com o agravar do desemprego. Depois a sazonalidade desta nossa região em pouco ajuda a minorar ou a acalentar de que amanhã tudo possa ser melhor, porque não irá ser, pelos menos nos dois próximos anos. O ano passado, as carrinhas que transportavam os turistas do aeroporto e vice-versa, nesta altura diminuiam, mas este ano praticamente desapareceram. De vez em quando lá se vê uma ou outra, nada de expressivo. E no entretanto, assistimos a um silêncio total, quase como se um pacto de silêncio houvesse para escamotear que algo vai mal no reino. Será que os golfistas ingleses que nos visitavam neste período do ano mudaram a agulha para um destino sem 23%? Ninguém nos diz nada. A ver-vamos.

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