CARLOS ALBINO

 SMS 488

Não é para inglês ver

A insegurança do dia de amanhã está a tornar Portugal um país nada confiável para os portugueses. O que foi ontem prometido não é cumprido hoje, discursos de esperança para arrebanhar circunstanciais aplausos esbarram pouco depois com fracassos em grande parte evitáveis, previsões de melhoria são desmentidas com os números feitos à mesma hora em que tais previsões foram feitas, anúncios de dinâmica nova para a economia portuguesa cedo se revelam dependentes dos humores económicos que nem são assim tão mundiais mas residem cá na casa, garantias de um governo menos pesado de ser carregado pelos cidadãos acabam por se transformar em aumento de prosperidade apenas para alguns, as reformas de contenção de gastos do Estado não se traduzem no reforço da potencialidade do Estado mas em mais impostos e em mais entraves burocráticos e legais que impedem o integral desenvolvimento das forças produtivas do país, o implante de modelos que não foram referendados estão a quebrar ou quebraram já o que até há pouco era um franco entusiasmo com as conquistas do país na consolidação da democracia e da estabilidade económica, enfim, a instabilidade tornou-se um património da sociedade e isso é amplamente percebido. Portugal tem pela primeira vez desde há muitos anos perceção de risco, com uma classe política dirigente que se contradiz amiúde, sem uma ideia ou um pensamento claro e amigo, mas que sobrevive pela ameaça e sobretudo com essa acusação falaciosa feita a todos os portugueses segundo a qual vivemos muito acima das nossas possibilidades, quando a verdade é que os dirigentes que temos tido ou fomos elegendo, esses sim, revelaram-se ou acabam por se revelar como muito abaixo das potencialidades que se esperava terem. Há a suspeita geral de que grandes escândalos que à evidência estiveram e estão na base do desvario das contas públicas e do erário público são esbatidos ou abafados como que por milagre divino, em função do poder de influência dos seus autores, coniventes ou beneficiários. O Estado não se descentralizou, nem sequer onde lhe seria fácil como no caso do Algarve, comprometendo os administrados nas decisões que lhes pertencem, tudo isso a pretexto de se insuflar um municipalismo que, na hora de fazer contas, agora quase é colocado no banco dos réus ou de castigo, tanto que não temos Ministério das Finanças mas apenas Ministério do Orçamento e não temos Ministério da Economia mas Ministério dos Remendos. Para um país que há bem pouco tempo era visto como um país de futuro, é bom saber que ele está mais longe e não é para inglês ver.

Flagrante apelo: Aos leitores assinantes do Jornal do Algarve dos quais depende a continuação desta obra de que o Algarve não pode nem deve prescindir. Juntamo-nos ao apelo bem lembrado de João Leal: “Salvem o Times”.

 

Deixe um comentário

Exclusivos

Veículos TVDE proibidos de circular na baixa de Albufeira

Paolo Funassi, coordenador da concelhia do partido ADN - Alternativa Democrática Nacional, de Albufeira,...

Algarve comemora em grande os 50 anos do 25 de abril

Para assinalar esta data, os concelhos algarvios prepararam uma programação muito diversificada, destacando-se exposições,...

Professor Horta Correia é referência internacional em Urbanismo e História de Arte

Pedro Pires, técnico superior na Câmara Municipal de Castro Marim e membro do Centro...

O legado do jornal regional que vai além fronteiras

No sábado passado, dia 30 de março, o JORNAL do ALGARVE comemorou o seu...

3 COMENTÁRIOS

  1. O Algarve estagnou. Está parado -, paralizado, melhor dizendo.

    Quem deveria dinamizar, paralizou. Não tem soluções, nem sequer as já desgastadas de cartola, por que ninguém acredita nelas, nem neles -, os mágicos do costume.

    Assistimos com curiosidade, apenas ao tempo meteorológico regional que vai ou virá a fazer, e ainda assim com desconfiança para os meteorologistas, como foi o caso de Lagoa e Silves. Já nem nesses podemos confiar as nossas esperanças. Porque de facto falharam. Já não se fala nisso, mas falharam.

    Mas o pior de tudo o que nos está para acontecer no ano fiscal de 2013, é a descrença que cada vez mais (para além do desemprego) se instala individualmente nos cidadãos. Nem sequer falamos das empresas que faliram, que continuarão a falir e das outras que “deram às de vila diogo”.

    O que virá a ser de nós?

  2. A propósito de «Flagrante apelo: […] “Salvem o Times”»: uma pequena e real história de vida.

    Um bela tarde estival encontrava-se a “mocenhada” pela praia, à falta de melhor, catrapiscando algum bikini proibido ou dando uns pontapés na chincha, eis senão quando, todas as atençóes foram desviadas com a aproximação do Pá-peixe.

    O Pá-peixe era um dos nossos ídolos: homem já feito, tipo Tarzan (Weissmuller) vinha aproximando-se da praia com a sua embarcação – uma chata – comum do Tejo. Era sempre alvo da nossa curiosidade pela pesca que ela teria conseguido.

    Depois de encostar na maré-baixa à praia, era necessária a ajuda do maralhal adolescente que por ali reinava e com a qual o Pá-peixe contava para empurrar a embarcação para cima – para onde o mar não chegasse durante a maré-cheia.

    Toca de empurrar, “bora-lá”, ala ala, ala arriba, faz força que eu grito, mas a chata não se demovia do mesmo sítio. Todos gritavam mas ninguém fazia força. Até que o “Pá-peixe”, enrrabichado, deu dois gritos de marafado, invectivou a maralhada com os adjectivos necessários, sem paninhos quentes, e a embarcação lá foi ligeirinha praia acima, sã e salva da próxima maré.

    Não fará falta um grito e mais uns adjectivos para “salvar o Times”?

  3. Só, complementar a história do Pá-peixe. (O meu admirado cronista Carlos Albino, que me desculpe qualquer coisinha)

    O Pá-peixe tinha base na praia de Algés e um dia mudou-se para a da Cruz-Quebrada. É absolutamente necessário realçar, que nos primórdios dos anos sessenta, as pequenas embarcações eram todas movidas a remos (força de braço).

    Com essa embarcação denominada “chata” o Pá-peixe, a quem a sua mãezinha tinha privilegiado com uma razoável compleição física de mais de metro e oitenta, ele complementaria o seu cabedal à força de tanto remar. E meus bons amigos, era digno de ver o mulherio como as abelhas e o mel.

    Esta pequena história realista, era de um tempo em que os roazes (golfinhos) subiam o Tejo até ao mar da Palha (Seixal), maternidade igual à nossa Ria de Faro.

    Pela poluição, os poucos golfinhos conhecidos estagiam apenas por Setúbal. Hoje o Tejo e a sua foz, em Setembro, pelas marés-vivas, frente ao Farol do Bugio, ainda é possível ver muitas chatas com motor fora-de-borda, por ali à pesca, onde o Pá-peixe ia e vinha a remos.

    O Pá-peixe igual que o Rio Tejo, já são apenas uma saudade (ambos morreram). Provavelmente de forma igual, um destes dias a nossa Ria Formosa – por tão poluída que anda, cheia de algas, também morrerá.

Deixe um comentário

Por favor digite o seu comentário!
Por favor, digite o seu nome

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.