Carrilho diz que não há debate no partido desde que Sócrates é líder

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O ainda embaixador português na UNESCO, Manuel Maria Carrilho, afirmou ontem que, desde 2004, quando José Sócrates assumiu a liderança do PS, no partido “não há nenhum debate sobre coisa nenhuma”.

Na apresentação do seu livro “E Agora? Por uma Nova República”, em Lisboa, o antigo ministro da Cultura defendeu que é preciso “credibilizar os partidos”, o que só se faz se eles forem “laboratórios de ideias” e “antena da sociedade”, e considerou que tal não acontece no PS.

“No meu partido [PS] não há nenhum debate sobre coisa nenhuma, desde a atual liderança”, acusou.

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Na conferência de apresentação do livro, Carrilho afirmou que “se aproxima o momento em que é preciso fazer o inventário destes anos numa perspetiva de discutir os problemas nacionais que manifestamente não têm tido solução”.

Tendo em conta, ressalvou, “quais foram as origens, as razões, as raízes dos problemas em que caímos de uma maneira tão persistente”.

E estes problemas a que o antigo ministro da Cultura do Governo socialista de António Guterres se refere são “apostas sistematicamente erradas”, como “o esquecimento da qualificação das pessoas, do território e das instituições, a aposta cega no betão e o deslumbramento tecnológico”.

No entanto, no que toca a atribuir responsabilidades, Manuel Maria Carrilho admitiu apenas que elas são “partilhadas” e que, “quando se discutem problemas, não se deve falar de pessoas”, uma vez que “discutir problemas é desfulanizar as questões”.

Para Carrilho, um dos temas que importa discutir e perceber é saber o que foi feito aos “dez milhões de euros que, desde 1980 até hoje, entram por dia em Portugal vindos da Europa”.

“Por que é que fizemos autoestradas que estão hoje vazias, que nem sequer satisfazem o critério internacional de construção de autoestradas em termos de tráfego? Por que é que temos hoje o dobro da percentagem de autoestradas em termos da rede viária que tem a União Europeia?”, questionou.

O antigo ministro das Finanças do primeiro governo de Sócrates, Campos e Cunha, que também apresentou o livro de Carrilho, com a escritora Inês Pedrosa, afirmou que se está a “viver uma situação económica que é 90 por cento fruto da qualidade das elites políticas” que Portugal tem e que “vai demorar muitos anos” para ser resolvida.

Sobre o centenário da República Portuguesa, e evitando falar sobre as questões económicas em concreto, Campos e Cunha afirmou, em declarações aos jornalistas, que “olhando para trás, às vezes fica um sabor amargo”.

“A III República teve momentos em que funcionou muito bem, mas também é verdade que, nos últimos dez anos, [se vive] numa situação muito difícil, em que as instituições não têm sido capazes de rejuvenescer com novas soluções, com novas ideias e com novas pessoas”, sustentou.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros anunciou no final de setembro uma rotação diplomática que incluía a substituição de Manuel Maria Carrilho na Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) pelo embaixador Luís de Castro Mendes.

Carrilho considerou-se “demitido” e revelou ter sabido da sua saída pela imprensa, versão contrariada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, segundo o qual a decisão foi tomada em abril e comunicada ao ex-ministro da Cultura.

AL/JA

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