Castro Marim: José Estevens abandona o PSD

ouvir notícia

José Estevens manifestou a intenção de concorrer pelo PSD às próximas eleições autárquicas de 2017. Mas Francisco Amaral tem o apoio dos órgãos distritais e nacionais

.

O ex-presidente da Câmara de Castro Marim e atual líder da estrutura local do PSD, José Estevens, acaba de renunciar à militância no partido, “entregando” o cartão de militante numa carta aberta dirigida esta quinta-feira ao presidente do PSD, Pedro Passos Coelho.

Em causa está o facto da estrutura nacional do partido apoiar a recandidatura de Francisco Amaral à Câmara de Castro Marim, apesar da estrutura local ter escolhido José Estevens para encabeçar a lista do PSD às autárquicas.

- Publicidade -

Estevens não se recandidatou nas últimas eleições autárquicas, devido à lei que limita os mandatos, e avançou em Tavira onde viria a ser eleito primeiro vereador da oposição. O PSD de Castro Marim escolheu Francisco Amaral, que não se pôde recandidatar em Alcoutim, e este acabaria por ser eleito. Porém, a estrutura local do PSD e Francisco Amaral entraram em choque e a ideia da concelhia passou a ser a de voltar a recandidatar José Estevens.

Segue, na íntegra, a carta dirigida a Passos Coelho por José Estevens:

 

” ‘Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
mas não servia o pai, servia a ela,
e a ela só por prémio pretendia…’
(Luís de Camões)

Senhor Presidente do Partido Social Democrata,

Desculpar-me-á o aforismo, mas a minha curta e provinciana história política não difere muito da de Jacob servidor de Raquel e não de Labão. Em 1997 vendo a minha pobre Castro Marim vítima de atropelos de toda a ordem, dispus-me, ao serviço do PSD, a resgatá-la, conduzindo-a a um campo de afirmação, dignidade, crescimento e de lançamento das bases que haveriam de engravidar a esperança desta serrana bela do extremo sotavento algarvio.

A hipócrita lei Sócrates da limitação de mandatos, levou-nos a procurar alguém que pensávamos ter o perfil certo para dar continuidade ao cumprimento do sonho. E, foi assim que, com o capital que dispúnhamos de 16 anos de dedicação lúcida e empenhada em benefício exclusivo da comunidade castromarinense que, reiteradamente e com confiança nos atribuiu a sua representação.

E, mais uma vez, fomos honrados com a confiança dos eleitores, que acreditaram na continuação da execução das políticas, processos e projectos conducentes à concretização do paradigma há muito eleito farol comunitário, — afirmar o concelho como um dos mais desenvolvidos, modernos e competitivos do país, com assimetrias, desigualdades e injustiças erradicadas.

Infelizmente fomos comissários de um erro clamoroso, fazendo fé numa reputação
habilmente construída, militámos na eleição de um carácter que, assumiu de imediato o corte com o substracto pessoal determinante das suas candidatura e eleição, procurando apoios noutros campos e conduzindo a subversão das políticas, processos e projectos que havia jurado servir.

Constatada a irreversibilidade dos processos, concluída a impossibilidade do diálogo, dada conta dos factos, desde a primeira hora, às estruturas do partido legitimadas para o efeito, acreditámos na possibilidade de se corrigir o rumo com a aproximação do novo acto eleitoral.

A afirmação de V.Ex.ª de pretender que o partido volte a ser maioritário em termos autárquicos, levou-nos ao reforço da convicção. Pensamento que sofreria o primeiro abalo, com a deliberação, contra legem, da Comissão Política Nacional do Partido, que assumia a recandidatura de todos os presidentes de câmara que ainda pudessem renovar o mandato.

Acreditando que não seria mais do que uma orientação, contornável naquele aspecto, porque a acrescer à primazia dos estatutos, na estratégia aprovada para as autárquicas 2017, foi enunciado o perfil dos candidatos e um conjunto de objectivos a alcançar nos municípios onde o PSD venha a ser poder.

Ora, tendo o putativo candidato um perfil que fica a anos luz do recortado na linha de orientação estratégica enunciada pelo partido e demonstrada, por demais, a sua incapacidade para executar as políticas conducentes à obtenção dos objectivos elencados para os territórios de governança PSD, não deixámos secar a esperança de ver Castro Marim retornar ao rumo certo.

E foi assim que, cumprindo o estatuído nos regulamentos em vigor, a Comissão Política de Secção, que me honro presidir pelo terceiro mandato consecutivo, encontrou, por unanimidade, o nome a propor à comissão política distrital como candidato à presidência da câmara municipal, depois de aceite também por unanimidade pela assembleia de militantes do partido.

Contudo e, ao que cremos, em obediência a outros princípios, desenhados e tutelados, primariamente, pelas duas últimas estruturas distritais do partido, ancorando-se a actual, contra todo o tipo de fundamentos, na referida deliberação da Comissão Política e Conselho Nacional do Partido, para rejeitar o nome proposto pela estrutura local do Partido.

Aliás, V. Ex.ª ao ter afirmado em conferência de imprensa, astuciosamente preparada, em 21 de janeiro, em Albufeira, que o actual presidente da câmara municipal de Castro Marim só não seria de novo candidato à câmara municipal se não quisesse, fez tábua rasa dos estatutos do partido, diminuiu a democracia, e reiterou tacitamente a célebre expressão “que se lixem as eleições”.

É que, os estatutos são aprovados em Congresso e nem a Comissão Política Nacional nem o Conselho Nacional os podem derrogar, a estrutura local do partido democraticamente eleita ainda não tinha exercido o seu direito de, nos termos dos estatutos, propor o candidato, e se efectivamente o partido quer ser maioritário nas autarquias não enjeitava liminarmente a hipótese de voltar a candidatar o anterior presidente da câmara em Alcoutim, sendo certo que terá menos hipóteses de se fazer eleger em Castro Marim onde volvidos três anos e meio de mandato ainda não se identificou minimamente com as dinâmicas do concelho e é alvo de todo o tipo de críticas.

Procurando sempre pautar a minha conduta pela descrição, nunca me desvinculei do sentido de missão, quer no exercício do cargo de presidente da câmara municipal de Castro Marim, quer como primeiro vereador da oposição na câmara municipal de Tavira, nunca entrando em jogos de bastidores pela disputa de lugares no partido o que abomino, também não consigo emancipar-me dos vínculos que me ligam à bela Castro Marim e suas gentes, pelo que, e na admiração do trabalho dessas gentes e na esperança de um futuro melhor, devolvo a V. Ex.ª o meu cartão de militante do Partido Social Democrata, reassumindo assim a minha liberdade, valor que considero primeiro entre os primeiros.

Com os meus melhores cumprimentos,

Atentamente,

José Fernandes Estevens

2017.03.02″

.

.

- Publicidade -
spot_imgspot_img

Deixe um comentário

+Notícias

Exclusivos

1 COMENTÁRIO

  1. Só quereis poder !!! tanto faz servir Raquel como Labão, ou seja, hoje Castro Marim mas ontem Tavira. Já chega de tantos lambões ….

Deixe um comentário

Por favor digite o seu comentário!
Por favor, digite o seu nome

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.