Catástrofes deste verão alertam para efeitos das mudanças climáticas

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Entre canícula, seca e inundações, os acontecimentos excecionais que se desenrolam este verão, da Rússia ao Paquistão, remetem para as perspetivas sombrias dos efeitos futuros das mudanças climáticas.

Os climatólogos interrogados hoje pela agência noticiosa AFP recusam correlacionar as catástrofes que atingem a Federação Russa, o Paquistão, a China ou a Europa de Leste, argumentando com a falta de histórico.

Mas todos as consideram “coerentes” com as conclusões do Grupo Intergovernamental de Peritos sobre as Mudanças Climáticas (GIEC).

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“São acontecimentos que se reproduzem e se intensificam num clima perturbado pela poluição dos gases com efeito de estufa”, adianta Jean-Pascal Van Ypersele, vice-presidente do GIEC.

“Os acontecimentos extremos são uma das maneiras pelas quais as mudanças climáticas se tornam dramaticamente percetíveis”, acrescentou.

A Agência dos Estados Unidos para os Oceanos e a Atmosfera (NOAA, na sigla em inglês) assegura que o planeta nunca esteve tão quente como no primeiro semestre de 2010.

Ora, segundo o GIEC, num clima que está a aquecer, as secas e as vagas de calor, como a que ocorre na Federação Russa e em 18 Estados norte-americanos, tornar-se-ão mais intensas e mais longas.

“Que se trate de frequência ou de intensidade, praticamente em cada ano batem-se recordes, às vezes até na mesma semana: na Rússia, o recorde absoluto observado em Moscovo, nunca visto desde o início dos registos meteorológicos há 130 anos (38,2 graus Celsius no fim de julho), foi batido no início de agosto. No Paquistão, as inundações nunca conheceram uma tal amplitude geográfica”, sublinha Omar Baddour, encarregado de acompanhar a evolução do clima mundial na Organização Meteorológica Mundial.

“Encontramo-nos, nos dois casos, numa situação sem precedentes”, assegurou.

“A sucessão de extremos e a aceleração dos registos são conformes às projeções do GIEC. Mas é preciso observar estes extremos ao longo de vários anos para tirar conclusões em termos de clima”, relativizou.

Tanto assim que as inundações no Paquistão poderão ser imputáveis ao fenómeno La Niña que – ao contrário do El Niño, ao qual sucede normalmente – é provocado por um arrefecimento acentuado da temperatura na superfície do Oceano Pacífico Central.

“De maneira geral, o El Niño provoca uma seca no subcontinente indiano e no Sahel. Com o La Niña é o contrário”, adiantou Baddour.

O climatólogo britânico Andrew Watson justificou o calor atual com o El Niño do ano passado.

“Sabemos que depois do El Niño segue-se um ano particularmente quente, e é o que se está a passar”, apontou.

O especialista adiantou que os extremos observados este ano são “totalmente coerentes com os relatórios do Grupo Intergovernamental de Peritos sobre as Mudanças Climáticas e com as previsões de 99 por cento dos cientistas”.

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