Cavaco acusa Sócrates de falta de lealdade

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Palavras muito duras de Cavaco Silva sobre o ex-primeiro-ministro, para assinalar o primeiro ano do segundo mandato. José Sócrates recusou comentar, mas Pedro Silva Pereira responde à letra e devolve as acusações.

O Presidente da República Cavaco Silva acusa José Sócrates, de falta de lealdade, por não ter sido previamente informado do conteúdo da quarta versão do Plano de Estabilidade e Crescimento (PEC IV). Contactado pela Antena 1, o ex-primeiro-ministro recusou comentar.

No prefácio do livro “Roteiros VI”, lançado hoje para assinalar o primeiro ano do segundo mandato presidencial, Cavaco Silva escreve que “o anúncio do ‘PEC IV’ apanhou-me de surpresa. O primeiro-ministro não me deu conhecimento prévio do programa, nem me tinha dado conta das medidas de austeridade orçamental que o Governo estava a preparar e da sua imprescindibilidade para atingir as metas do défice público previstas para 2011, 2012 e 2013”.

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“Pelo contrário, – acrescenta o Presidente -, a informação que me era fornecida referia uma situação muito positiva relativamente à execução orçamental nos primeiros meses do ano. O primeiro-ministro não informou previamente o Presidente da República da apresentação do Programa de Estabilidade e Crescimento às instituições comunitárias. Tratou-se de uma falta de lealdade institucional que ficará registada na história da nossa democracia.”

Impedido de exercer magistratura de influência

Desta forma, Cavaco sentiu-se impedido de exercer a sua magistratura de influência, “com vista a evitar o deflagrar de uma crise política”.

“Em pouquíssimos dias, – lembra Cavaco Silva -, a crise acabaria por se precipitar a uma velocidade vertiginosa, tendo um desfecho previsível. Em face da rejeição do ‘PEC IV’ pela Assembleia da República, o primeiro-ministro apresentou-me a sua demissão, no dia 23 de março [de 2011], por considerar que não dispunha de condições políticas para se manter em funções.”

Mas as críticas a José Sócrates não ficam por aqui, com Cavaco Silva a acusar o antigo primeiro-ministro de ter atrasado o pedido de auxílio financeiro por estar em pré-campanha eleitoral.

“O facto de, após a demissão do primeiro-ministro, se ter começado a viver um ambiente de pré-campanha eleitoral, certamente contribuiu para o atraso no pedido de auxílio financeiro. Esta questão convertera-se num tema de controvérsia político-partidária, quando, pela sua gravidade, deveria ser tratada numa perspetiva de salvaguarda do interesse nacional, que não conhece partidos nem fações”, escreve Cavaco Silva no prefácio.

Para o chefe de Estado, “desde que iniciara funções, o Governo revelava grande dificuldade em adaptar-se à situação decorrente da perda de maioria absoluta nas eleições legislativas de setembro de 2009. Era sempre com grande contrariedade, e só depois de muito pressionado, que aceitava dialogar com os partidos da oposição para aprovar leis na Assembleia da República e para obter consensos imprescindíveis no tratamento de matérias de interesse nacional”.

Cavaco chega mesmo a acusar Sócrates de recorrer frequentemente “a uma linguagem de inusitada contundência no tratamento dos seus adversários, a que estes respondiam em tom muito duro, adensando um clima de conflitualidade e de crispação de que os Portugueses se iam apercebendo com preocupação”.

Cavaco é “campeão da deslealdade institucional”

Em declarações à Antena 1, o antigo braço direito de José Sócrates, Pedro Silva Pereira, devolveu as críticas do chefe de Estado acusando-o de ser o “campeão da deslealdade institucional”.

“O Presidente da República não tem nenhuma espécie de autoridade moral para acusar quem quer que seja de deslealdade institucional. Esse é também o risco de um texto como este: de que alguém lhe recorde que ele foi o campeão da deslealdade institucional porque permitiu no Palácio de Belém, com toda a impunidade se desenvolvesse a célebre intriga das escutas, que foi, como hoje é sabido uma pura inventona de ataque sórdido ao Governo em funções”, disse Pedro Silva Pereira.

Falando a título pessoal, o antigo ministro da Presidência, lembrou ainda que no seu discurso de vitória nas últimas eleições presidenciais Cavaco fez “um apelo ao protesto e à indignação de que depois veio a fugir quando se deslocou à António Arroio” e que com o seu discurso de tomada de posse, há cerca de um ano, “pura e simplesmente adulterou a realidade da situação económica portuguesa ignorando totalmente o contexto da crise internacional e da crise das dívidas soberanas e se recusou a fazer a pedagogia que agora está muito disponível para fazer, dos sacrifícios e da austeridade”.

Para Silva Pereira “o Presidente da República termina com este texto da pior maneira um ano absolutamente desastroso no exercício da função presidencial, que conduziu, aliás, às mais baixas quotas de popularidade de que há memória. Creio que neste momento alguém deveria recordar ao Presidente da República que ele ainda está em funções e que este talvez não seja o melhor momento para escrever as suas memórias políticas e para dividir com elas os portugueses”.

JA/Rede Expresso
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