Uma tragédia sem precedentes no Paquistão. São já cerca de três milhões as pessoas afectadas pelas cheias da última semana e 1400 o número de mortos. O balanço provisório foi feito pela UNICEF, numa altura em que aumentam os riscos de epidemias.
Cem mil pessoas, na maioria crianças, sofrem já de cólera e doenças gástricas, sobrevivendo em campos de fortuna, no meio da lama e de corpos em decomposição.
As chuvas torrenciais, seguidas de deslizamentos de terras, devastaram aldeias inteiras e as terras agrícolas na região do Vale de Swat, uma das zonas mais pobres do Paquistão. Há 80 mil casas destruídas, 50 mil outras danificadas e as infraestruturas construídas nos últimos 50 anos não resistiram à força das águas.
Um habitante da região de Charsadda denuncia a corrupção. Conta que os mais velhos apropriaram-se das rações e distribuiram-nas no próprio clã. Os mais pobres não receberam nada, depois de terem visto as águas arrastarem tudo.
Falta comida, água potável, tendas e medicamentos. O governo paquistanês está a ser fortemente criticado pela gestão da crise. A comunidade internacional mobiliza-se. A Comissão Europeia desbloqueou 30 milhões de euros, a maior promessa feita até agora.
Mas no terreno, o vazio governamental é ocupado pelas organizações caritativas islâmicas, próximas dos radicais que aproveitam o descontentamento popular, numa região já afectada pelo conflito armado entre o exército e os talibãs