Cientistas querem melhorar bem-estar de douradas em aquacultura

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Dois estudos de investigadores da Universidade do Algarve (UAlg) apontam para uma melhoria do bem-estar de douradas em aquacultura após a introdução de pequenas estruturas que simulam elementos do meio natural.

Dois artigos publicados recentemente por investigadores do grupo Fish Ethology and Welfare, do Centro de Ciências do Mar (CCMAR), sediado na UAlg, revelaram que cordas de sisal penduradas nas jaulas de cultivo melhoraram a cognição, o comportamento exploratório e as funções fisiológicas do cérebro da dourada.

“Descobrimos que medidas muito simples têm uma influência enorme no bem-estar das douradas”, revelou à Lusa um dos autores dos artigos.

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João Saraiva adiantou que no meio natural as douradas “usam estruturas no fundo do mar”, como algas ou rochas, mas a “comum ausência desses elementos” nas jaulas e tanques de cultivo pode causar “frustração e stress, comprometendo o crescimento e a saúde dos peixes”.

A solução passou por “pendurar cordas de sisal no centro das jaulas”, desde a superfície quase até ao fundo, de forma a “reproduzir alguma da complexidade do meio” em que as douradas habitam naturalmente, no que é denominado de enriquecimento ambiental.

A opção testada é encarada como um “compromisso para com a indústria” de produção de peixe, com a intenção de demonstrar que “a melhoria do bem-estar dos animais pode ser obtida com pequenas alterações” que não afetam a rotina das empresas.

“É preciso pensar um pouco à frente, juntando o que já se sabe da etologia (o estudo do comportamento dos animais) e o que usam no seu dia-a-dia e criar um compromisso com a indústria”, revelou.

Há estudos em laboratório que indicam que a “dimensão e a cor do substrato, como areia ou pedras de diferentes dimensões melhoram o bem-estar dos animais”, sublinha o perito, mas “podem não ser soluções praticáveis nas indústrias, dificultando a limpeza do fundo de tanques. Em jaulas é impossível de o fazer, por exemplo”.

Um dos estudos decorreu em jaulas, num ambiente laboratorial, onde foi possível testar o comportamento dos peixes, a memória espacial, os mapas mentais e as competências que adquirem neste ambiente, que “melhoraram muito” com introdução das cordas.

Neste ambiente controlado foi também medida a serotonina, “um dos neurotransmissores associados a estados felizes em humanos e outros animais”.

“Em várias zonas do cérebro das douradas testadas havia muito mais serotonina do que as que viviam em ambientes estéreis”, afirmou o biólogo.

O outro estudo recentemente publicado foi feito em meio industrial com a instalação de transmissores de telemetria nos peixes, registando constantemente a sua posição nas jaulas e que “revelaram alterações de comportamento com o enriquecimento ambiental”.

Segundo João Saraiva, numa jaula comercial os peixes “nadam concentrados essencialmente na extremidade, deixando o centro vazio”, mas ao colocarem as cordas “gera-se uma curiosidade e passam a usar todos os espaços disponíveis”.

“Os dados indicam que as douradas utilizam o espaço de uma forma diferente e que no final estão em melhores condições, com menos lesões e melhores indicações morfológicos de qualidade”.

Com a colocação das cordas, os peixes “afastam-se uns dos outros, atacando-se menos”, o que gera uma “redução nas feridas”, já que a dourada é um peixe “que morde tudo, quer umas às outras quer as redes”, destacou.

Apesar de não ter analisado os níveis da chamada hormona do stress neste estudo, João Saraiva defendeu que “há indicações de que peixes que sofrem menos stress”, apresentando valores reduzidos de cortisol, “e que têm enriquecimento ambiental, em princípio, terão carne de melhor qualidade”, já que esta hormona “prejudica a qualidade da carne”.

O grupo está atualmente a colaborar com empresas internacionais de produção de peixes, com quem efetuou alguns ensaios, mas “gostaria muito” de trabalhar com empresas portuguesas.

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