Cinco agentes da polícia mortos em protesto contra violência racial em Dallas

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Dois suspeitos “em posições elevadas” mataram quatro agentes da polícia de Dallas “ao estilo de emboscada” e feriram outros sete e um civil durante um protesto do movimento Black Lives Matter [as vidas dos negros também importam, numa tradução livre] naquela cidade do Texas, uma das dezenas de manifestações que tiveram lugar na madrugada desta sexta-feira (hora portuguesa) nos Estados Unidos. Pelas 8h da manhã de hoje em Lisboa, a polícia confirmou que um quinto agente sucumbiu aos ferimentos no hospital, fazendo subir para cinco o balanço de agentes mortos.

O chefe da polícia da cidade, David Brown, disse num primeiro comunicado que os dois “snipers” atiraram sobre os agentes “a partir de posições elevadas”, com a polícia a acrescentar mais tarde que um suspeito foi detido e que a brigada de minas e armadilhas estava a analisar um “pacote suspeito” encontrado nele. Uma “pessoa de interesse” cuja fotografia foi posta a circular pelas agências de segurança entregou-se à polícia pouco depois do incidente, avançou ainda o departamento.

A polícia continua a negociar esta manhã com um outro suspeito que estará barricado num parque de estacionamento no centro de Dallas e que diz ter espalhado bombas pela cidade, uma ameaça que já levou a Autoridade de Aviação Civil dos EUA a interditar a passagem de voos no espaço aéreo sobre a cidade do Texas.

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De acordo com os media norte-americanos, a manifestação foi pacífica até àquele momento, à semelhança das dezenas que tiveram lugar esta quinta-feira em várias cidades dos EUA. No Twitter, o departamento da polícia de Dallas foi publicando fotografias de “homens, mulheres, rapazes e raparigas” que se juntaram em solidariedade pelos direitos dos afro-americanos, com algumas das imagens a mostrarem agentes a posarem para a fotografia com manifestantes.

Num dos vídeos postos a circular veem-se dezenas de agentes da polícia a convergir para um conjunto de prédios na baixa de Dallas, incluindo um parque de estacionamento subterrâneo, com um outro vídeo da Fox News em que se ouvem vários tiros a serem disparados com as sirenes da polícia em pano de fundo.

Os protestos de quinta-feira aconteceram em reação a mais duas mortes de homens negros pela polícia norte-americana, que já levaram a pedidos da própria ONU aos EUA para que as autoridades federais investiguem os dois casos.

Na madrugada de terça-feira, a polícia de Baton Rouge, no Louisiana, recebeu uma chamada anónima a denunciar que um homem estava armado em frente a uma loja da cidade. Quando os agentes chegaram ao local, Alton B. Sterling, de 37 anos, que estava a vender CD na rua, foi manietado e forçado a deitar-se no chão por dois agentes antes de se ouvir um deles a abrir fogo sobre o detido. Um dia depois, em Falcon Heights, no estado do Minnesota, Philando Castile foi abatido pela polícia dentro do carro ao tentar tirar do bolso a sua carta de condução e o livrete do carro. O rescaldo do incidente foi gravado pela namorada da vítima — um vídeo perturbador em que é ouvida a dizer “você disparou quatro balas contra o meu namorado, senhor agente, ele disse-lhe que tinha uma licença de porte de arma e que estava armado mas que só ia tirar os documentos do bolso, senhor agente”.

“Quando incidentes destes acontecem”, declarou Barack Obama esta quinta-feira à noite, antes do tiroteio no protesto de Dallas, “uma grande faixa dos nossos cidadãos sente que, por causa da cor da sua pele, não estão a ser tratados da mesma forma. E isso dói e deve preocupar-nos a todos. Isto não é só um problema dos negros, nem um problema dos hispânicos, é um problema americano.”

Os dois casos fizeram ressurgir o debate sobre o racismo no seio das autoridades policiais norte-americanas, dando força ao movimento Black Lives Matter, que nasceu de forma relativamente espontânea, primeiro como uma hashtag nas redes sociais em 2013, após o vigilante de bairro George Zimmerman ter sido absolvido do homicídio do jovem negro Trayvon Martin, abatido a tiro em fevereiro de 2012, poucos dias depois de ter completado 17 anos.

O movimento ganhou notoriedade internacional em 2014, quando dois afro-americanos — primeiro o jovem Michael Brown e depois Eric Garner — foram mortos pela polícia em dois incidentes distintos, apesar de estarem ambos desarmados.

Os homicídios geraram uma enorme movimentação social nos EUA, com protestos contra a brutalidade e o racismo da polícia a terem lugar em Ferguson, no Missouri — onde Brown, de 18 anos, foi morto a tiro a 9 de agosto de 2014 pelo agente branco Darren Wilson, de 28 anos, que as autoridades federais decidiram não processar por falta de provas de que foi motivado por racismo — e em Nova Iorque — onde Eric Garner foi asfixiado até à morte pelo agente branco Daniel Pantaleo, que foi absolvido.

Joana Azevedo Viana (Rede Expresso)

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