Com exemplar desportivismo:
O gesto dos gestos!

Protagonizado pelo dinamarquês Jonas Vingegaard, na 18 ª etapa da Volta à França, no rescaldo dos Pirinéus, e numa altura em que o seu mais direto competidor Tadej Pogaçar, quando ambos desciam a grande velocidade a penúltima montanha, o Col de Spandelles, para atacarem, a seguir, a categoria especial do Hautacam, onde estava instalada a meta, Pogaçar caíu, deixando Vingegaard isolado e, perante o sucedido, em condições de ganhar uma vantagem substancial.
Para surpresa de alguns, os que, infelizmente, consideram o fair play uma…treta, mas, que, para muitos, felizmente, puderam observar a nobre atitude do dinamarquês ao se aperceber da queda do seu adversário, em vez de acelerar travou o andamento e foi aguardando pela aproximação do esloveno, algum tempo depois, com os calções rasgados e a escorrer sangue da  perna esquerda.
Pogaçar, manifestando gratidão, logo que se abeirou de Vingegaard, estendeu-lhe a mão de forma respeitosa, com o imenso mundo do ciclismo a presenciar.
Em Espanha, a ‘Marca’: “Tadej Pogaçar e Jonas Vingegaard protagonizaram um dos momentos do ano no Desporto. Pogaçar caíu depois de perder o controlo da bicicleta na gravilha. Vingegaard abrandou e foi apanhado. Os dois campeões deram depois as mãos”. Por sua vez, a BBC Sport, que revelou: “Vingegaard está um passo mais próximo de vender o Tour, depois de aumentar a vantagem na liderança numa etapa esplêndida. Num brilhante ato de desportivismo esperou e apertou a mão a Pogaçar, depois da queda do esloveno”. De França, o ‘L’Equipe’, sublinhou: “Pequeno susto para Pogaçar. Caíu a velocidade reduzida e rasgou os calções, depois de escorregar na gravilha. Saíu ileso. Vingegaard, que pouco antes quase caíra, esperou por Pogaçar, que agradeceu o gesto num aperto de mão”. De Itália, pela ‘Gazzetta dello sport’ vem a exaltação. “Vingegaard perto da vitória no Tour. E depois aquele gesto, a mão estendida a Pogaçar, ferido na perna esquerda e com o calção roto. Um fair play que exalta ainda mais um desporto de extraordinária dificuldade como o ciclismo. O gesto dos gestos”, a concluir.
E pensarmos nós no que, de viva voz, nos relatou José Manuel Delgado, na última edição do programa ‘A Quinta da Bola’: “Há uns anos, fez furor (e alguns seguidores, até) a frase de Jorge Jesus, segundo a qual o fair play era uma treta. Mas não é, é até um dos fundamentos do desporto, tão profundamente enraízado que se mostra capaz de resistir à mercantilização e industrialização do fenómeno”. Realmente, um espanto…, vindo de onde veio, até com contornos de: last but not least.
Na rota (mais) assertiva deste sulcar de ‘mares’ do campeão Jonas Vingegaard, assinale-se o reconhecimento, a homenagem prestada pelo Presidente francês Emmanuel Macond: “Demonstrou quem é o patrão da corrida. É maravilhoso ver ganhar um ciclista que até há bem pouco tempo era pescador”, enquanto fã do campeão dinamarquês.
Importará (ainda) ter em consideração que Vingegaard, antes de assinar o seu primeiro contrato profissional, tinha de ajudar os pais financeiramente, trabalhando seis horas por dia numa fábrica de peixe em Hanstholm.
Por tudo quanto representa este, diríamos que deslumbrante, gesto dos gestos do campeão dinamarquês Jonas Vingegaard, poderemos extraír a ilação de que, em nome dos valores fundamentais da Ética, não é pensando que somos, é sendo que pensamos, solidariamente responsáveis.
No Desporto como na Vida!

Humberto Gomes

*“Embaixador para a Ética no Desporto

Deixe um comentário

Exclusivos

Algarve comemora em grande os 50 anos do 25 de abril

Para assinalar esta data, os concelhos algarvios prepararam uma programação muito diversificada, destacando-se exposições,...

Professor Horta Correia é referência internacional em Urbanismo e História de Arte

Pedro Pires, técnico superior na Câmara Municipal de Castro Marim e membro do Centro...

O legado do jornal regional que vai além fronteiras

No sábado passado, dia 30 de março, o JORNAL do ALGARVE comemorou o seu...

Noélia Jerónimo: “Cozinho a minha paisagem”

JORNAL do ALGARVE (JA) - Quem é que a ensinou a cozinhar?Noélia Jerónimo (NJ)...

1 COMENTÁRIO

  1. No desporto como na vida !
    Que bonito, acrescento eu !

    Num tempo em que a nobreza dos gestos passa por uma crise, cada vez mais acentuada, em todos os campos da vida dos homens, e é, progressivamente, substituida por atitudes espúrias, protagonizadas por gente bastarda, é refrescante para o espírito ver acontecerem gestos como aquele a que se refere o articulista.
    Quer no desporto, quer na vida, repito.

    Bem opostamente, no nosso burgo, ainda no âmbito do ciclismo, todos tivemos conhecimento de uma notícia recente, a todos os títulos triste.
    Falo da notícia publicada pelo ‘Diário de Notícias’, em 27/07, com o título, cito, ‘UCI RETIRA LICENÇA À W52-FC PORTO. DAS TONELADAS DE COMPRIMIDOS PROIBIDOS ÀS BOLSAS DE SANGUE’.
    Para os que, eventualmente, não tenham lido, transcrevo o primeiro parágrafo da mesma, onde pode ler-se que ‘A União Ciclista Internacional retirou a licença desportiva à W52-FC Porto, na sequência das suspeitas de ‘doping’ reiterado na equipa de ciclismo ligada aos dragões, há seis anos, impedindo-a, assim, de se apresentar no pelotão da Volta a Portugal, que vai para a estrada, de 4 a 15 de Agosto.’

    Na sequência desta decisão da União Ciclista Internacional, noticiava também o jornal “A Bola”, no dia seguinte, 28/07, com o título ‘DIRECTOR DA ADoP REVELA AMEAÇAS APÓS SUSPENSÃO DA W52-FC PORTO E ATÉ MOSTRA QUE RECEBEU UM … CARTUCHO PELO CORREIO’.
    Transcrevo igualmente o primeiro parágrafo da notícia, que informava que ‘António Júlio Nunes, director-executivo da Autoridade Antidopagem de Portugal (ADoP), revelou ter recebido ameaças após a União de Ciclismo Internacional (UCI) suspender a equipa W52-FC Porto’.

    Parece-me que pouco mais ou nada mesmo será necessário acrescentar, quanto a este tipo de processos ínvios e inconfessáveis e de onde eles procedem, aos quais se poderia acrescentar como, no futebol, também, por vezes, algumas famílias de árbitros são incomodadas, para ser eufemista.

    Se há países no mundo onde o tecido social é contínuo e sem quaisquer divisões, de Norte a Sul, esse país é Portugal.
    Não o entendem assim algumas personagens, que procuram, através da sua verborreia venenosa, forjar clivagens onde elas não existem de todo, procurando virar país contra país, tudo em nome de uma indecorosa pretensão de vencer, custe o que custar, pouco importando os meios utilizados.

Deixe um comentário

Por favor digite o seu comentário!
Por favor, digite o seu nome

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.