Como somos? Como nos sentimos? – Estudo sobre o desgaste da profissão

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O desgaste da profissão docente é um dos maiores problemas que os professores e educadores identificam na sua carreira e tem vindo a aumentar devido ao agravamento das condições de trabalho, imposto nas últimas décadas, além do stress “normal” inerente à profissão.
Vários estudos, investigações e conferências têm sido realizados nos últimos anos com o objetivo de ajudar a compreender o estado atual da profissão docente.
Os sindicatos da FENPROF têm desenvolvido seminários e ações de formação sobre o tema e concluído que a profissão docente é uma das mais afetadas pela exposição continuada ao stress, devido, sobretudo:
– à erosão identitária, sociológica e material dos docentes ao longo dos anos, que passa pela sua desvalorização social e paradoxalmente pela exigência familiar/social que obriga o professor a assumir diversos papéis (ensina, educa, aconselha, resolve, salva…); pela precariedade assente na instabilidade, desemprego, e política de baixa de salários, a que se junta o congelamento da carreira e a tentativa de “apagão” de mais 9 anos de trabalho;
– às difíceis condições laborais, agravadas com o avanço do neoliberalismo que tem conduzido à perda de direitos, à criação de horários de trabalho desregulados, à excessiva carga letiva…;
– à falta de reconhecimento ou até desvalorização do trabalho docente;
– ao aumento de situações de indisciplina discente;
– à falta de apoio dos colegas e das direções escolares, que tem gerado um ambiente crescente de conflitualidade;
– ao ruído dentro e fora da sala de aula;
– à pressão para apresentar resultados escolares positivos, com o “folclore” anual dos rankings a pretender avaliar/julgar o trabalho dos professores e das escolas, comparando o que é incomparável;
– à burocracia que obriga a criação de numerosos documentos de eficácia e utilidade duvidosas…
Apesar do Ministério da Educação reconhecer a necessidade de elaboração de um estudo sobre o desgaste emocional dos professores e as suas condições de trabalho, tal nunca o fez.
A FENPROF quer aprofundar o estudo deste problema, num momento em que finalmente o assunto começará a fazer parte das reuniões com o Ministério da Educação. Assim, a FENPROF, em conjunto com um equipa de investigadores coordenada pela historiadora Raquel Varela, irá desenvolver o maior e mais completo estudo sobre o problema, cujos resultados permitirão aprofundar o conhecimento sobre a profissão docente e melhor agir e negociar. De fevereiro a junho decorrerão várias fases do estudo que assentará na análise de mais de 40 mil inquéritos recolhidos nas escolas e jardins-de-infância.
Numa entrevista, a historiadora Raquel Varela acrescentou que “(…) não é só um estudo sobre o desgaste emocional e o chamado burnout, mas também sobre as condições de vida e sobre a vivência subjetiva dos professores nas escolas. O que eles sentem e pensam sobre os alunos, gestão, colegas.” E conclui dizendo “(…) Estamos a falar de uma categoria de profissionais que são responsáveis pelo futuro do país, que formam o país e os trabalhadores do país. As condições de vida e de trabalho destes 130 mil docente são absolutamente essenciais para determinar como é que vão ser formados os atuais alunos”.
O SPZS e a FENPROF, na ação diária que mantêm nas escolas, sabem que chegámos a uma situação de rutura provocada pelo stress e burnout, a que se juntam o envelhecimento e o desgaste emocional da classe. Não é só a profissão docente que está a ser ameaçada, são todos os alunos e a sociedade pelo que é imperioso reverter a situação.

Cristina Lourenço

* professora de História e dirigente sindical SPZS

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