Quem assistiu no Irão ao jogo Tottenham/Manchester United, no passado dia 11, não assistiu a tudo. A televisão estatal iraniana interrompeu a partida mais de 100 vezes, censurando as imagens, por um motivo que, para os ocidentais, parecerá banal. É que, de cada vez que as pernas da árbitra auxiliar Sian Massey-Ellis aparecia, imagens do jogo davam lugar a fotos panorâmicas do estádio e das ruas de Londres.
Sian Massey-Ellis, de 35 anos, uma oficial de jogo de futebol inglês que atua geralmente como árbitra assistente no Premier League e na Football League, ao longo da partida, impávida e serena, desempenhou as funções que lhe estavam cometidas.
Quem não esteve pelos ajustes, como resultante da censura das imagens, foi o movimento on-line “My Stealthy Freedom” (criado em 2014 por Masih Alinejad, jornalista e artista nascida no Irão, com sede no Reino Unido e nos Estados Unidos), que em comunicado, enquadrado na luta pelos direitos das mulheres no Irão. acusa o governo do país de fazer tudo para não mostrar a juíza de “cabelo destapado e joelhos à mostra”.
Mais acentua o movimento, que: “Normalmente, as cenas de filmes que exibem mulheres em roupa considerada reveladora são censuradas. Mas, isto foi impossível durante a transmissão, em direto, do jogo. Os censores da televisão ficaram perturbados pela presença de uma árbitra de calções”, confirmando, ainda. “A solução foi cortar a transmissão ao vivo para mostrar as ruas circundantes de Londres, o que tornou o jogo numa piada. No final do encontro, um dos comentadores brincou dizendo que esperava que os espetadores tivessem desfrutado do espetáculo geográfico”.
Tema tão profundo este, nos planos sócio-desportivo-político, que, procurando amenizar a intensidade do mesmo, criando condições mais propícias a uma serena reflexão, talvez que se justifique trazer ao palco dos acontecimentos, sem ruído, nem holofotes acesos, mestre – porque sábio! – José Saramago: “Dentro de nós há uma coisa que não tem nome: essa coisa é o que somos”.
Não é pensando que somos, é sendo que pensamos!
Humberto Gomes
*”Embaixador para a Ética no Desporto”