Comunicando desportivamente: Falando de campeões, quando a amizade prevalece

Neste mundo, vezes quantas, atribulado por via de comportamentos e atitudes por demais censuráveis, quer no desporto como na vida quotidiana, como é salutar observar exemplos que só enobrecem quem os pratica e, por via disso, arrastam consigo autênticas multidões de adeptos, de que resulta, afinal, se constituirem em autênticos ídolos, porque ensinam, sendo!


Como é o caso dos tenistas Roger Federer e Rafael Nadal. Quer o suiço, quer o espanhol, em função dos seus extraordinários percursos, têm dividido o mundo dos amantes do ténis. Com a ajuda do nosso confrade “Record” e da pena do nosso companheiro José Morgado, e pelo que dizem os (mais) entendidos Roger Federer, de técnica apurada, talento único e elegância difícil de replicar, a equivaler-se à força, garra, emoção, coração e capacidade de superação inigualável de Rafael Nadal.


Há precisamente onze dias, quando Nadal ergueu a Taça dos Mosqueteiros – o troféu de Roland Garros – pela inacreditável 13.ª vez nos últimos 16 anos, os dois tenistas passaram a ter o mesmo número de títulos de Grand Slam, partilhando assim o recorde (masculino, neste caso) mais desejado da modalidade: 20 troféus em Majors.


Até ao momento, Federer liderava a tabela de campeões de Grand Slam masculinos de forma isolada dede 2009, quando chegou ao 15.º Major em Wimbledon, ultrapassando o recorde de Pete Sampras, norte-americano que apenas seis antes havia saído de cena com um número de Majors (14) que então parecia muito difícil de bater.


De recordar que há 11 anos, quando Federer “apanhou” Sampras, havia a noção de que Rafael Nadal poderia ser o próximo a ameaçar os registos de Federer… e assim foi.


Agora, aos 34 anos, e depois de lhe ter sido vaticinada uma carreira curta – o seu estilo de jogar é muito menos amigo do corpo do que o de Federer, por exemplo, Nadal continua a vencer e vai entrar em 2021 empatado com Federer no dado estatístico mais tido em conta na hora de decidir quem é o melhor de todos os tempos.


Em momento de justificada euforia, com a clarividência e sentido da realidade dos grandes campeões, Nadal expressa-se assim: “É claro que não vou fingir e dizer que não gostava de terminar a carreira como o jogador com mais títulos de Grand Slam. Mas não posso passar a minha vida infeliz porque o meu vizinho tem a casa maior do que a minha, um barco maior ou um telefone melhor do que o meu. Tenho de viver a minha própria vida, fazer o meu próprio percurso, por mim. É claro que respeito os recordes, adoro história e adoro ténis. Para mim é uma honra enorme partilhar este registo com o Roger”.


A relação de Federer e Nadal dentro e fora de court é também um exemplo para o desporto… e para vida. É verdade que nem sempre foi tão próxima como é hoje, mas Roger e rafa são hoje em dia grandes amigos e juntam-se constantemente para eventos de caridade organizados pelas fundações que ambos possuem. Federer foi, por exemplo, convidado de honra da inauguração da Academia do espanhol, no final de 2016, e ofereceu muitos objetos pessoais para o museu em Manacor.


De sublinhar que Federer foi um dos primeiros a reagir ao igualar do recorde de Majors por parte de Nadal, numa mensagem que emocionou o espanhol, que citamos: “Sempre tive o maior respeito pelo meu amigo Rafa como pessoa e campeão.

Enquanto meu maior rival ao longo dos anos, acredito que puxámos sempre um pelo outro para nos tornarmos melhores jogadores. É uma honra para mim dar-lhe os parabéns pela conquista do seu 20.º título de Grand Slam. É especialmente incrível que ele tenha agora 13 títulos em Roland Garro, um dos maiores feitos do desporto. Dou os parabéns também á sua equipa, porque ninguém consegue fazer isto sozinho. Espero que o número 20 seja apenas mais um passo na nossa caminhada.

Parabéns Rafa, tu mereces”.


Que mereceu, por parte de Nadal, esta reação: “Significa muito esta relação que temos. É uma grande relação, sobretudo pela rivalidade que tivemos neste tempo, mas só posso agradecer-lhe por esta mensagem”.


Seja-me permitido – sorry…- alongar este time out, porque evitando sempre aquilo que, em matéria jornalística, se designa de “chouriço”…, mas perante esta relação, aplicando ao desempenho das funções que nos estão cometidas, de há seis anos a esta parte, em análise global, a juntar ao mister enquanto elemento do juri do Concurso Literário: “A Ética na Vida e no Desporto”, que classifique este formidável exemplo de: “Falando de campeões, quando a amizade prevalece”: SUBLIME!


Porque acreditamos piamente que nada do que é humano permanece imóvel, espectral, porque tanto nós como os outros somos a vontade permanente da nossa liberdade: Não é pensando que somos, é sendo que pensamos!

Humberto Gomes
*”Embaixador para a Ética no Desporto”

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