Enquanto opinião generalizada, pelos amantes do voleibol europeu e mundial, Nikolai Karpol, nascido na Bielorússia há 82 anos, completados em 1 de Maio último, é um treinador amante da disciplina, rigoroso, duro e implacável.
Possuidor de um curriculum impressionante, Nikolai, que viveu toda a sua juventude na antiga União Soviética, conquistou 25 títulos nacionais, várias Ligas dos Campeões e por duas vezes o ouro nos Jogos Olímpicos de Moscovo – 1980 – e Seul 1988. Em termos de condecorações, recebeu as Ordens de: Bandeira Vermelha do Trabalho, da Amizade e da Amizade dos Povos, esta última já na vigência de Vladimir Putin.
E foi na condição de treinador implacável que se conta esta história: nos Jogos Olímpicos de Seul, na final diante do Perú, em que a Rússia perdia por dois sets a zero e no momento em que as peruanas lideravam o 3º set por 12-6 (recorde-se que, nessa altura, o set fechava quando uma equipa atingia os 15 pontos), Nikolai solicitou um time out – circunstância a que o futebol, um tanto absurdamente, não tem aderido, ao contrário da generalidade das modalidades coletivas -, e deu a volta ao resultado, acabando por ganhar a final, arrecadando a sua 2.ª medalha de outro em participações olímpicas.
Neste emotivo encontro, e no decorrer desse time out, ficou célebre uma pergunta que o conceituado treinador formulou a uma sua atleta, Irina Smianova, que havia sido criada pela avó e que sempre falava nela: “Que farás quando voltares a casa e encontrares a tua avó depois de perderes a final?”. Repetiu a pergunta… e o resultado? A jogadora ficou num pranto, voltou ao jogo com um contributo à equipa não registado até então, catapultando as companheiras para uma exibição memorável, na conquista do ouro, acabando por vencer por 3-2.
Nikolai que, no início da sua carreira de treinador, acumulava com a lecionação das disciplinas de matemática, física e astronomia, no ensino médio, transportando para o trabalho junto da sua equipa feminina de sempre: Uralochka, de Ekaterinburg, não só a parte dura de liderança do ser rigoroso e implacável, mas também uma indispensável pitada de serena e apreciada pedagogia.
E esta exemplar fidelização – a quanto obrigas… – vai-lhe valer ser reconhecido um inimitável, até ao momento, recorde de permanência à frente de uma equipa, precisamente 51 épocas, a ser oficializado no livro “Guinness”.
E a lembrarmo-nos nós que, a pretexto das apregoadas “chicotadas psicológicas”, particularmente no futebol que, na esmagadora maioria das vezes, de psicológico têm rigorosamente… nada!
As tais coisas da “coisa desportiva”… ou a nossa (in)cultura no seu expoente mais elevado!
Humberto Gomes
“Embaixador para a Ética no Desporto”