…E deu origem a um desfecho inglório para as cores nacionais, na disputa do Europeu de Hóquei em Patins, impedindo-nos de chegar à final, porque no jogo entre a Espanha e a França aconteceu ‘aquilo’ – e exatamente só ‘aquilo’! -, que não podia ter acontecido: a vitória de ‘nuestros hermanos’ por menos de três golos de diferença.
Já se pressentia qualquer ‘coisa’…, porquanto, logo após o triunfo de Portugal diante da Espanha, na jornada anterior, o selecionador português Renato Garrido alertava para que a verdade desportiva pudesse acontecer: “Só espero é que o jogo entre a Espanha e a França seja sério”. Talvez que a exemplo da mulher de César: mais do que parecer é preciso ser… séria.
É que, confirmado o pressentimento, estava a ser cozinhado, em boa versão portuguesa, o caldinho…, que veio, afinal, a originar uma final entre a Espanha e a França, com o esperado triunfo dos favoritos espanhóis, naquela que representou uma página negra para o desporto, e para o hóquei em patins em particular, e na qual a Ética foi atraiçoada.
De nada valeu, no jogo que disputou a seguir, Portugal ter goleado Andorra por um concludente 12-1. Situação que atirava a nossa seleção para a discussão do terceiro lugar frente a Itália, mas o jogo acabou por ser cancelado na sequência dos casos de Covi-19 diagnosticados na seleção lusa e a decisão da formação italiana em não se submeter ao protocolo sanitário definido pelos regulamentos nestas circunstâncias.
Edo Bosh, antigo guarda-redes espanhol, e adjunto do selecionador nacional, adotou uma postura bastante crítica a propósito de como se desenrolou o jogo Espanha-França, e lembrou: “Portugal já teve oportunidade de fazer o mesmo nos Jogos Olímpicos de 1992, mas renunciou a perdeu a oportunidade de conquistar uma medalha”, acrescentando: “Foi difícil assistir ao França-Espanha, onde, já antes de começar houve uma troca de capitães que nos fez perceber que estava a acontecer algo. O desenrolar provou que não foi limpo. Há valores com os quais não me identifico e o respeito que tinha por aqueles jogadores baixou bastante”, reação inequívoca do técnico.
Já o jogador da seleção portuguesa Henrique Magalhães não escondeu a sua frustração, e “o sentimento agridoce após o triunfo sobre Andorra”, argumentando: “Não quero falar muito sobre esse assunto. Digo apenas que, se aconteceu alguma coisa estranha, então algo tem de mudar a nível das regras”.
Com mudança ou não das regras, importará ter presente que, no desporto como na vida, o Homem e a Sociedade são tarefas a realizar e, vezes quantas, a transformar.
Não podemos estar de acordo, nem engrossar uma qualquer legião de basbaques que, não descortinando a demagogia de certos quefazeres e atitudes, se deixam influenciar pelos jogos de bastidores daqueles que percorrem os corredores das indignidades.
Jogos de bastidores que, trazendo, uma vez mais, ao palco dos acontecimentos mestre – porque sábio! – Manuel Sérgio, nos ‘adverte’: “Não há jogos, há pessoas que jogam” e “as pessoas são mais importantes, muito mais importantes, do que os jogos e as taças e os campeonatos”.
E, a fechar, com a permissão do mestre, talvez que se justifique acrescentar: O êxito, o sucesso, não se compra, apenas se merece!!
Humberto Gomes
*“Embaixador para a Ética no Desporto”