Concessionários queixam-se que receitas cairam para metade

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Mesmo com um agosto bom e um setembro a começar bem, os proprietários de toldos das praias algarvias queixam-se de uma queda de receitas para metade das verificadas na época balnear de 2019. O JA foi ouvir concessionários e nadadores-salvadores sobre a presente época balnear. Todos se queixam da falta de gente, mas igualmente elogiam a civilidade da maioria dos banhistas, nesta época tão atípica

Os concessionários das praias do Algarve tiveram nesta época alta uma queda de receitas de cerca de 50% nos serviços prestados face ao ano passado, garantiu esta semana ao JA o presidente da Associação dos Industriais e Similares Concessionários das Praias da Orla Marítima do Algarve (AISCOMA), Artur Zeferino Simão, que opera na zona de Ferragudo.
Apesar de um mês de agosto que classificou como “razoável”, a afluência de clientes durante os meses de junho e julho não garantiu um ganho para as despesas das empresas que exploram a cedência de toldos e espreguiçadeiras aos banhistas, asseverou o líder patronal dos concessionários algarvios.


“No mês de junho as concessões não ganharam para as despesas. Em julho, idem. Quer os apoios balneares quer os equipamentos de praia não ganharam. O mês de agosto deu uma grande ajuda. Foi um mês razoável, não como os outros anos, mas que esteve a uns 80%. Nos casos dos apoios balneares nem tanto, porque a maioria dos clientes são portugueses e os portugueses nesta época trazem guarda-sóis para a praia e não alugam toldos”, resumiu.


Para ilustrar a quebra no número de clientes, Artur Simão enunciou o caso de um colega, da praia da Rocha: “Tem sete filas de toldos, que enchiam todos os anos, mas este ano só operou com as três primeiras filas, as outras estiveram sempre fechadas, o que demonstra a diferença entre este ano e os outros”.

Artur Simão, presidente da Associação dos Concessionários das Praias do Algarve (AISCOMA)


O balanço da época de toldos vai ao arrepio das expectativas iniciais dos profissionais do setor, segundo as quais, devido à pandemia, os veraneantes deveriam preferir os toldos dos concessionários, com localizações e distanciamentos estabelecidos à partida, rejeitando as surpresas de localizações de chapéus mais curtas do que o legalmente estipulado.


Mas, contrapõe o presidente da AISCOMA, não foi isso que aconteceu: “Na verdade eu também pensava assim inicialmente, mas na prática isso não se verificou. Há menos ocupação este ano, até porque a mesma área tem menos toldos. Para além disso, raramente isto encheu. Os toldos, apesar de serem em menos quantidade, nunca estiveram lotados. Havia a sensação de que ia haver uma grande corrida aos toldos, mas isso não aconteceu”.


Situação que, só pontualmente, fez baixar os preços dos toldos e espreguiçadeiras: “Não podemos baixar preços. As diretrizes era só permitir a venda de meios-dias, mas isso não funcionou na prática”, disse o líder associativo, reconhecendo contudo que “a concorrência, às vezes, faz baixar os preços e isso pode ter acontecido num caso ou noutro”.

Perdas em agosto são inferiores ao esperado


Co-proprietário de três concessões e dois restaurantes na praia de Monte Gordo, Paulo Calvinho concorda com o seu colega de Ferragudo quanto ao diagnóstico de perdas e danos: “Em junho e julho as pessoas tiveram medo, depois perderam um bocado desse medo e começaram a vir. Agosto e setembro estão a ser meses bons. Agosto está 20% abaixo do que foi agosto de 2019.

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Esperava-se que estivesse 40%, mas está a ser melhor do que as expectativas, apenas 20% abaixo do ano passado.

Esperávamos uma queda maior”, acrescenta, lembrando que os portugueses – que por ali constituem uma boa fatia dos clientes – “estiveram sem emprego e em layoff, baixaram-lhes o ordenado, não tiveram dinheiro para ir de férias. Estiveram em casa três meses”.


“A taxa de ocupação dos meus toldos é de 60% a 70% este ano, relativamente ao ano passado”, precisa Paulo Calvinho, que quantifica em 130 os toldos que possui.

Paulo Calvinho, co-proprietário de três concessões em Monte Gordo


Concorda com o colega também em outros aspetos da operação: “Mantivemos os preços. Os empregos são os mesmos, a segurança tem que se assegurar”, afirma, enfatizando que os os empregos têm obrigatoriamente que se manter, com os dois nadadores-salvadores obrigatórios por Lei e os restantes membros do staff, “que não podem descer muito”.


O presidente da AISCOMA corrobora que “a maior parte dos equipamentos, em relação aos apoios balneares, tiveram que manter as mesmas pessoas. Os equipamentos tiveram pessoal a mais porque mantiveram algumas pessoas dos anos anteriores, têm essas responsabilidades e amizades com as pessoas. E alguns equipamentos tiveram pessoal a mais mas a pensar aguentar os funcionários, a pensar no futuro. Houve algumas reduções, mas foi sobretudo naquele pessoal que só trabalha um mês no verão”.


Simão resume que, com menos clientes, os preços a manterem-se e as mesmas despesas, 2020 foi “um ano atípico, um ano para não haver lucro”.

Bolas e raquetes é que “estragam” tudo


Situação ainda mais agravada por episódios como o que ocorreu na área balnear da responsabilidade da Capitania de Portimão, que – assegura o líder da AISCOMA – veio exigir uma taxa ilegal, para as pessoas concorrerem num concurso para apoios balneares: “Numa altura em que temos menos lucro, mais despesas e fizemos um grande esforço para conseguir trabalhar este ano, eles vieram com uma taxa em que, as pessoas, para ficarem com os apoios de praia, que antes era com concursos de 10 em 10 anos, e as pessoas que lá estão têm direito de preferência, este ano: no Carvoeiro exigiram 70 mil euros a um colega para ficar ali três anos. Os que arriscam a candidatar-se pensam que aquilo é a galinha dos ovos de ouro e depois veem que é insustentável”.

Fiama Souza, nadadora-salvadora em Quarteira


Na prática balnear, quem lida mais de perto com os banhistas não tem muitas razões de queixa. É o caso de Fiama Souza, 25 anos, nadadora-salvadora de nacionalidade brasileira que trabalha numa praia do Oeste de Quarteira: “Os banhistas geralmente cumprem os distanciamentos. Não é nossa atribuição reprimir os abusos, mas caso persistam ou sejam mais agressivos temos que chamar a Polícia Marítima” afirma a nadadora salvadora mineira, observando que, uma das prevaricações mais correntes, são os jogos com bola e raquetes, atividades este ano proibidas nos areais. “O que foi mais difícil foi não jogar raquetes, futebol, as pessoas não conseguem compreender bem”.


Na sua segunda temporada em praias algarvias – a primeira foi no ano passado na Prainha de Vilamoura, depois de alguns anos na piscina de um hotel de luxo – Fiama concorda que o movimento “caiu muito” face a 2019.


Também nadador-salvador, Paulo Pernambuco, 20 anos, acha igualmente que, este ano, grande parte dos banhistas respeitaram sempre as indicações dos nadadores-salvadores e das autoridades: “Aprendemos a evoluir nesta pandemia. O comportamento dos banhistas superou as expetativas, tanto em termos de quantidade de banhistas como de regras a cumprir”.

Paulo Pernambuco, nadador-salvador, em Vilamoura


“Quando havia algum problema nós indicávamos que, devido às instruções da DGS e autoridades marítimas, não era permitido. E respeitavam e paravam de jogar. Aqui nestas praias, sempre que havia algum distanciamento social falávamos com as pessoas e elas respeitavam isso e cumpriam”, afirma Pernambuco, que faz da praia do Garrão Nascente o seu local de trabalho nesta época balnear.


O jovem, que cumpre agora a sua primeira época balnear como nadador-salvador, concorda com a colega mais velha quanto àquela que parece ter sido, geralmente, a maior dificuldade da época: “Dizíamos que não se podia jogar à bola ou raquetes e alguns estrangeiros, embora em pouco número, recusavam-se a aceitar isso. A maioria dos que se portavam pior eram os britânicos”.

João Prudêncio

Ele veio da Califórnia para o Algarve

“Marés Vivas” na Quinta do Lago

Passa quase todos os anos largas temporadas no Hawai, Austrália e vários países europeus, mas a costa californiana é a sua fortaleza, ali pertence aos quadros da mais famosa brigada salva-vidas do planeta, que se tornou famosa pela série de TV “Marés Vivas”. Marco Augusto, tão português quanto americano, passa agora os dias vigiando as ondas na Quinta do Lago

Mark em contexto norte-americano

Profissional de salvamento aquático há 29 anos, Marco (ou Mark, como reza o seu passaporte dos EUA), com 47 de idade, sempre dividiu a sua vida sobretudo entre Portugal e os EUA, mas foi na costa oeste norte-americana, junto a Los Angeles, que lhe nasceu o gosto pelo salvamento de vidas na água, aos seis anos de idade. E logo aí se entregou às tarefas que o acompanhariam nas quatro décadas seguintes.


”Fui da Juniors Life Gards desde os 6 anos até aos 18. Vi o filme com o Sam Elliot e a Anne Arquette, “Lifegards”, de 1975, e foi esse filme que me despertou a atenção para esta vida”, recorda agora, sentado no areal da Quinta do Lago, onde cumpre um mês da sua profissão, até ao último dia de setembro.


Com dupla nacionalidade portuguesa e norte-americana, bilingue desde que se conhece, uma vida a meias entre as praias californianas de Vanice Beach, Santa Monica, Malibu e portuguesas da costa de Lisboa e do Algarve, Marco Sérgio Augusto já percorreu o mundo atrás do sonho da sua profissão.


Passa quase todos os anos largas temporadas no Hawai, Austrália e vários países europeus, mas a costa californiana é a sua fortaleza, ali pertence aos quadros da mais famosa brigada salva-vidas do planeta, que se tornou famosa pela série de TV “Marés Vivas”. Como gosta de dizer, faz parte da elite mundial do salvamento aquático, que se divide pelos vértices do mirífico triângulo norte-americano, hawaiano e australiano.


Quase todos os anos passa as férias em Portugal, onde reside a sua mãe, mas este ano foram as férias que o trouxeram e depois a pandemia que o obrigou a ficar em terras lusitanas, Algarve incluído: “Estava de férias cá e depois fiquei, não somente para apoiar a minha mãe, mas devido ao corte dos voos e ao covid-19, porque nos EUA a doença está a ser muito dura e as regras sanitárias apertaram muito. Então decidi não regressar este ano, pedi licença profissional nos EUA e estarei de forma mais efetiva em Portugal pelo menos até à próxima primavera”.

Marco Augusto, nadador-salvador numa praia algarvia


Residente em Vilamoura e casado com a russa Masha, de quem espera um filho, Marco cumpriu uma parte da sua temporada de trabalho algarvia na Praia do Forte Novo e agora está na Quinta do Lago. Um trabalho descansado, comparativamente com o que tinha na costa oeste americana: “É outro mundo. Lá temos 43 e 78 milhões anuais de visitantes somente na nossa jurisdição. Fazem-se uma média entre 9 a 18 mil salvamentos por ano, com centenas a milhares de ressuscitações anuais. As correntes são muito fortes e há incidentes todos os dias”.


Já no Algarve, “numa época normal o que há mais é ajudar as pessoas a sair da água. Só no Levante há mais trabalho. Mesmo em praias como o Guincho, a constância de salvamentos não é grande”, compara, momentos antes de interromper a conversa com o repórter para ajudar uma idosa a levantar-se, à beirinha da água.


Mas são as diferenças conceptuais, o respeito que se tem pelos nadadores-salvadores dos dois lados do Atlântico, que Marco mais enfatiza: “Lá, têm um grande respeito pelos nadadores-salvadores, que é uma carreira de um ano inteiro. Somos quase para-militares. Temos melhores condições, como torres de vigilância e meios de salvamento. O sistema europeu, incluindo Portugal, está anos-luz atrasado em relação às técnicas avançadas de salvamento aquático dos EUA, incluindo o Hawai, e a Austrália”, reforça.


Críticas que estende também aos seu colegas lusitanos e a alguns dos que, profissionalmente, os rodeiam: “Muitos nadadores-salvadores pecam pela sua falta de responsabilidade e as associações não só comem parte do salário do nadador como se estão a borrifar para nós. Alguns esquecem-se que se não fossemos nós não podiam abrir os chapéus e as espreguiçadeiras”, acusa.


Diferenças que se estendem ao capítulo salarial: em Portugal um “lifeguard” leva para casa entre 600 e 1.500 euros por mês, mas na costa de Los Angeles pode-se ganhar entre 55 a 350 mil dólares por ano. Uma pechincha salarial de 3.895 a 24.786 euros por mês.


J.P.

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