Em 2014, o consumo de cerveja voltou a registar uma quebra ligeira, entre um e dois por cento. Mas a culpa foi da meteorologia, não do sentimento económico. O clima castigou a indústria com um julho e agosto de pouco calor. Em 2013, o scetor fechara um ciclo de seis anos em queda, e registara um leve crescimento em volume (0,2%).
A Associação Portuguesa dos Produtores de Cerveja (APCV) não tem dados definitivos, mas o seu presidente, João Abecasis, reconhece que um “verão desastroso” terá conduzido a uma redução ligeira do consumo. Sem essa adversidade, as vendas teriam crescido. Os dois meses do verão pesam um terço no consumo anual.
A resistência do canal HORECA
Para João Abecasis, a “grande novidade” de 2014 foi a “notável resistência” do canal HORECA- Hotelaria, Restauração e Cafés, que revelou, pela primeira vez, um maior dinamismo e pujança. A explicação está no fator turismo.
Em polos turísticos, como Porto, Lisboa e Algarve, o consumo de cerveja esteve em alta. Uma boa notícia para cervejeiros porque, ao arrepio da tendência europeia, o consumo no HORECA bate as vendas no retalho alimentar.
A crise reduzira o peso do HORECA no negócio cervejeiro. A nova relação de forças estabilizou na distribuição 60% (HORECA) e 40% (alimentar).
No caso do retalho, João Abecasis está preocupado com a ameaça de deflação e adverte que “promover cada vez mais”, como fazem as grandes superfícies, “não conduz a uma maior consumo”.
Um terço da cerveja é exportada
Nos últimos quatro anos o consumo de cerveja caiu 20%, mas a produção resistiu graças às exportações. Mas em 2013, a indústria sofrera um severo revés em Angola (menos 22%) por causa do agravamento das taxas e das novas práticas aduaneiras.
Em 2014 o ambiente em Angola ficou mais risonho, mas as vendas estão longe dos níveis eufóricos de anos passados. A indústria, em 2014, “recuperou em todos os mercados exteriores”, refere João Abecasis.
A exportação absorve um terço dos 7,3 milhões de hectolitros que as seis bases fabris no continente e ilhas produzem. Com a imigração, uma parte do consumo transfere-se para o exterior.
Em Portugal, o consumo per capita está nos 49 litros (o recorde é 67 litros), um registo intermédio no universo da União Europeia.
Imposto penaliza cerveja
A indústria cervejeira pagou, em 2014, mais de 230 milhões de euros de impostos diretos e, em 2015, volta a sofrer com o agravamento de 3% no IEC (imposto especial sobre o consumo).
Se a não reposição do IVA nos 13% na restauração já era um fator adverso, a subida do IEC é uma nova desilusão para os cervejeiros.
A APVC classifica de “hipócrita” a justificação de que o imposto serve financiar as campanhas do Serviço Nacional de Saúde dirigidas ao consumo e álcool, quando o vinho (responsável por 56% do álcool ingerido) escapa a esta tributação. Uma “desleal discriminação fiscal” que dificulta a luta da cerveja pela quota de estômago dos portugueses.
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