Crise obriga famílias a tirar filhos dos colégios privados

ouvir notícia

Os colégios privados sentem já “de forma muito evidente” a crise das famílias, que tentam transferir os filhos para escolas públicas, deixam mensalidades por pagar ou cortam nas actividades extra.

Esta é a radiografia feita por responsáveis do sector que sublinham o “esforço” das famílias em manter os filhos no particular mas reconhecem que várias crianças têm abandonado os colégios rumo a instituições públicas ou de solidariedade social (IPSS).

Os pedidos de transferência dos privados para IPSS “têm acontecido ao longo do ano”, conta à Lusa Lino Maia, presidente da Confederação Nacional de Instituições de Solidariedade (CNIS).

- Publicidade -

O diretor da Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular (AEEP), Rodrigo Queiroz e Melo, corrobora: “As famílias têm feito um esforço para manter os filhos a completar um ciclo de ensino mas, muitas vezes, a opção é mudar para o Estado”.

“A crise das famílias reflete-se de forma já muito evidente no ensino particular, mas traduz-se de modo diferente consoante as zonas do país e tipo de colégio”, diz.

Nos privados de menor dimensão e nas áreas menos urbanas, “todas as dificuldades das famílias” são mais evidentes.

Já nos colégios mais conceituados “o primeiro sentimento é de algum desconforto com o facto de famílias com um ou mais filhos terem enormes dificuldades em manter todos na escola”. No entanto, continua a haver procura e listas de espera.

“O que se nota de um ano para o outro é a mudança de pessoas, especialmente no final dos ciclos de ensino”, explica Rodrigo Melo.

Na Academia de Música de Santa Cecília não há redução de inscrições mas “sente-se um reflexo nas actividades extra-curriculares”, diz a diretora Filipa Pacheco Carvalho.

Fernando Ribeiro e Castro, da Associação Portuguesa de Famílias Numerosas, considera que as famílias numerosas são obrigadas a cortar em despesas como educação, férias ou tempos livres.

Apesar dos esforços, há mesmo quem não consiga suportar as elevadas faturas dos colégios privados, que ultrapassam os 500 euros mensais.

Natália Nunes, responsável pelo Gabinete de Apoio ao Sobreendividamento da Deco, conhece casos de famílias com mensalidades em atraso que regularizam a situação no final do ano letivo “com o subsídio de férias ou o IRS”.

Contactados pela Lusa, diversos colégios confirmam atrasos esporádicos nas mensalidades e criação de planos de pagamentos. A direção dos colégios Mira Rio, Planalto, Horizonte e Cedros admite “a possibilidade de acordos pontuais para ultrapassar dificuldades momentâneas”.

Mesmo nas IPSS, onde se paga consoante o rendimento, nota-se uma preocupação especial com a crise. Exemplo disso é o Centro Sagrada Família, em Algés, que decidiu reduzir “excecionalmente” a mensalidade de agosto do próximo ano “atendendo à difícil situação económico-financeira em que a generalidade das famílias se encontra”, refere o regulamento da instituição.

Apesar da ajuda das IPSS, Lino Maia diz que várias crianças abandonaram até estas escolas, situação que tenderá a agravar-se: “Com o desemprego, certamente haverá mais famílias a reter os filhos em casa. Estando os pais desempregados, procurarão pelos próprios meios formas de reinserção, educação e acompanhamento”.

SIM/ARP

Lusa/JA

+++ Este texto foi escrito ao abrigo do Novo Acordo Ortográfico +++

- Publicidade -

Deixe um comentário

+Notícias

Exclusivos

Deixe um comentário

Por favor digite o seu comentário!
Por favor, digite o seu nome

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.