Vivia-se, com as premissas daqueles tempos, a assinalada década de 60 do século passado. Algarve em fora, uma das suas mais dinâmicas classes profissionais, a dos «viajantes», também chamados de «caixeiros viajantes», concretizava com querer, paixão e solidariedade uma obra de cariz ímpar e de grande relevância.
Foi a «Casa do Viajante», instituição sediada ao início da Estrada da Senhora da Saúde, no lado oposto ao Pavilhão da Escola D. Afonso III, que era um centro de convívio, recreio, cultura e, inclusive, de acolhimento a quantos por aqui vinham laborar. Uma ideia fraterna, evidenciado um forte laço de união em torno do denominador comum que era a profissão, a viagem. E que relevante papel na informação, na notícia, no levar «boca – a -boca» as «novas», sobretudo aquelas de cariz política que, por conhecidas razões, não se podiam relatar de voz alta. Os viajantes, face ás condições então existentes, eram interlocutores da maior valia nesta aculturação possível e numa tradição e escola que conhecia séculos de existência. A organização corporativa vigente deu-lhes o «agrément» traduzido pela presença e apoio do Sindicato Nacional dos Empregados de Escritório e Comércio do Distrito de Faro, ao tempo presidido por um benquisto e respeitado cidadão farense, o sr. Hugo Mascarenhas.
Muitos foram aqueles que deram o seu querer, boa vontade, esforço e tempo, em prol desta causa que foi a «Casa do Viajante». Abílio, Jorge Aleixo (falecido nos dias primeiros de Abril de 2021), Ginja, Xavier Rosa, o Brito do Areeiro, tantos e tantos mais membros desta prestimosa profissão que corria o Algarve levando os produtos (oriundos dos armazenistas), as «novas» e as anedotas e casos aos mais recônditos lugares da terra meridional.
Como surgiu a ideia da «Casa do Viajante»? Aconteceu em Vila Real de Santo António, no conhecido, típico e hospitaleiro restaurante «Janelas Verdes», onde se comiam os melhores «ovos á flamenca» de todo o País. O seu proprietário, Luís Félix da Silva, um mediático vilarrealense, que foi Presidente do Lusitano FC, homem imbuído de um pleno espírito hospitaleiro e generoso, tinha atenções amigas para com os viajantes que, num dia certo da semana, «faziam a praça» da Cidade Pombalina. Naquele ano e (?) semana aconteceu a 19 de Março (Dia do Patriarca São José, «Dia do Pai».
Lançou então a sugestão de se fazer, anualmente, uma festiva jornada de confraternização que assinalasse o «Dia do Viajante». Estava instituída a efeméride, que teve, em sucessivas edições, mérito, significado e luzimento. dessa comemoração avançaram estes briosos profissionais do comércio para a «Casa do Viajante». Funcionou a mesma durante vários anos e foi paradigma de muitas e relevantes acções.
João Leal