CRÓNICA DE FARO: Na lembrança do Carnaval…

Há muitos, muitos anos, seguramente mais de setenta e cinco e de então para cá a quadra carnavalesca era alegre e festivamente assinalada nesta Cidade Maior do Algarve, tal como o sucedia por toda a região sulina.

Começava logo após os «Santos Reis» e prolongava-se até Quarta Feira de Cinzas, com iniciativas múltiplas, de entre as quais destacamos os «bailes de máscaras» que decorriam, normalmente às quintas-feiras, Sábados e Domingos, transformando as ruas da Baixa num verdadeiro festival carnavalesco, rumo às sociedade recreativas. E eram muitas as que então existiam, na vivência de um movimento associativo que conhecera a sua explosão, reunindo os sócios consoante as posses, haveres, ocupações, extratos sociais e outras valências que ao tempo muito valiam. O povo descia às Ruas de Santo António e D. Francisco Gomes, como só se repetia, no período quaresmal seguinte, por via das procissões que então se efetivavam. Nas noites daqueles dias milhares de pessoas enxameavam os acessos às referidas agremiações para participarem nos bailes e «ver as mascarinhas», com trajes tão diferentes como as pessoas o eram desde as matrafonas às noivas ou das moiras aos cowboys.

Por localização geográfica começava-se pelo extinto Clube Recreativo 20 de Janeiro, na Rua do Alportel e por cima da Casa de Pasto Belchior, de onde o cheiro a iscas exalava para o recinto de baile. Era uma sociedade do sector médio baixo que tinha uma grande atividade teatral e onde chegou a funcionar o «Teatro da Serrapilheira» do Grupo de Teatro do Círculo. Dali descia-se para o «Sport Lisboa», o atual Sport Faro e Benfica, que funcionava no belo Teatro Lethes, em pleno, com camarotes desde o piso térreo à terceira fila dos camarotes. Depois, na contígua Rua de Portugal, era a desaparecida entre os seus sócios – marítimos, empregados comerciais, operários, etc. Descia-se então para o Largo da Palmeira (Terreiro do Bispo) onde continua a funcionar o Clube Popular de Faro («Grémio»), por cima do Restaurante Centenário e com uma massa associativa de maior pendor social. Mas a loucura destas «noites de máscaras» prosseguia o seu curso até ao Ginásio, que se chamou de «Gymnásio Club» a evidenciar a sua nota aristocrática. E seguia-se essa histórica agremiação a que nos unem tantas lembranças – a Sociedade Recreativa Artística Farense («Artistas»), cujos sócios eram estatutariamente artistas (serralheiros, construção civil, barbeiros, marceneiros, etc.). Por fim era o Clube Farense, dito «dos ricos», o top mais da capital sulina, com entrada ultra reservada, ao invés da democratização que em nossos dias conheceu.

E acontecia, como autêntico «ponto final» o «Enterro do Entrudo», em que o celebrante essa sempre lembrada figura do «Rabinete», Paquito, contínuo do Liceu João de Deus, exímio bailador do Grupo Folclórico de Faro e grande amador teatral, fazia o seu sermão humorístico e aspergia a assistência com líquidos vários…

Recorda-nos também a realização de alguns corsos, não muitos, que nesta área Loulé era e continua a sê-lo, a referência maior. Desfilava pela Avenida da República, então com um passeio central orlado de palmeiras esplendorosas. Presentes sempre as crianças com uma multiplicidade colorida e extravagante de trajes e direito a fotografia para recordação posterior.

João Leal

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