CRONICA DE FARO: Rafael Correia, um homem grande da Rádio Portuguesa

Foi, sem a menor dúvida, um dos maiores jornalistas da rádio portuguesa, no último quartel do século passado e princípios deste tempo atual, aquele que se chamou Rafael das Neves Correia. O mediático realizador de «Lugar ao Sul» que, transmitido pela Antena 1, o País, todo o País, escutava atento e venerador, naquelas manhãs dos Sábados. Era o homem, do litoral à serra, sem olvidar o barrocal; eram-no as gentes autênticas sem artificialismos nem retoques, apenas elas; acompanhavam-nos as orquestras da Mãe Natureza num panteísmo que nos metia dentro da própria reportagem.

Rafael Correia foi outro irmão gémeo do musicólogo Giacometi capturando na sua «Nagra» o mundo todo e todo o mundo numa vivência única. Depois era o montar, o alinhar, o colar segundo a segundo vozes e sons, sensibilidades e haveres de quem tinha um universo num «mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma». Como o escreveu a jornalista Fernanda Câncio, no «Diário de Notícias» «fez da solidão uma espécie de missão» e vivia nesse missionar peregrino, semana após semana, um lugar de encontro, de cívica e participada assembleia magna, o mostrar toda autenticidade, nas tradições, nos dizeres e falares, nos cantares e tocares, as músicas, as gentes, os pássaros e os voares, do que de mais verdadeiro tinham o Algarve e o Alentejo. «Lugar ao Sul foi o mais belo programa da rádio jamais feito sobre a terra, as gentes, os costumes, a cultura do Sul do Continente Português», ditou esse grande senhor da Comunicação Social, que é Adelino Gomes. Natural da freguesia rural de Santa Bárbara de Nexe, no concelho de Faro, onde nasceu há 82 anos, faleceu vítima de doença incurável que suportou, com notório estoicismo durante mais de uma década. Frequentou o ensino secundário na Escola Tomás Cabreira onde tivemos a dita de o ter como colega, tal como a honra de sermos amigos ao longo de toda a vida e juntos trabalhámos no então Emissor Regional do Sul da E.N., o alcunhado de «Rádio Alfarroba». Concluído o Curso Geral do Comércio entrou no «mundo do trabalho» como bancário e professor de Inglês. Mais tarde emigrou para a França e Inglaterra (1972/74), onde trabalhou nessa catedral que é a prestigiada BBC, regressando a Faro e ingressando na Rádio Pública, onde esteve, com a maior dignidade e valor até 2008.

Foi a sepultar no dia 8 de Março, em que outro poeta algarvio, o messinense João de Deus, faria o seu aniversário natalício ou o mundo celebrava o «Dia da Mulher». Dois evocações e dois destinos comuns no cantar do belo, do sublime e do omnipresente.

João Leal

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