“De boas intenções está o inferno cheio”

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Este governo, no início de mandato, eliminou a “Prova de Avaliação de Conhecimentos e de Capacidades” (PACC) para docentes, as Bolsas de Contratação de Escola, o exame da Cambridge – “Preliminary English Test (PET), a requalificação dos docentes, os contratos de associação para todos os casos em que o ensino público tinha respostas. Medidas sem dúvida positivas mas que já se perdem nas nossas memórias. Um sinal de que era preciso preservar a escola pública. Boas Intenções?


Mas como se pode preservar a escola pública fazendo uma campanha infame contra os professores como a que assistimos principalmente neste último ano, insultando e desvalorizando quem lá trabalha e que todos os dias, sem procurar mérito e muitas das vezes sem qualquer reconhecimento, trabalham para além do razoável, sempre preocupados com os seus alunos a quem se dedicam diariamente para que estes possam chegar mais longe, terem uma melhor vida e serem cidadãos de corpo inteiro.


A legislação que saiu em 2018 para a inclusão e para a flexibilidade do currículo tem nos seus preâmbulos ideias e conceitos de que, na sua generalidade, dificilmente poderemos discordar, mas depois lá vêm as “Boas intenções”, tudo fica no papel. Como flexibilizar e incluir com turmas enormes, que assim continuam, horários desregulados, os mesmos programas, extensos como sabemos. Como é que se pode dizer que se defende a escola pública e inclusiva, quando se continua hipocritamente a alimentar os rankings, defendendo uma suposta e evidente “liberdade” dos pais escolherem as escolas dos seus filhos. Para os pais tudo isto parece evidente, mas como refere Sampaio da Nóvoa, “o que é evidente, mente”. Mente porque a referida liberdade acaba por criar as escolas dos meninos ricos e pobres não promovendo o são convívio entre diferentes, que promoveria valores de solidariedade e de tolerância fundamentais para uma sociedade cooperativa e solidária. A liberdade da escolha da escola pelos pais cerceia a liberdade dos filhos que não conhecem na plenitude a sociedade onde vivem criando-lhes redomas – é a criação de guetos.


De boas intenções está o inferno cheio, sem que na escola pública haja os meios materiais e humanos para que esta possa cumprir o seu papel. Se isso não for feito é o início da privatização do nosso sistema de ensino. É preciso assegurar a transparência na colocação de professores, abrir vagas de quadro necessárias para que mais profissionais possam entrar, valorizar-lhes a carreira para torná-la atrativa, melhorar os horários de trabalho e haver uma aposentação a tempo e horas para que haja renovação e passagem de testemunho; é este o caminho. É preciso Investir na educação, é esta a luta que temos travado e é, na minha opinião este o caminho que devemos seguir no futuro, com perseverança, paciência e determinação.

Fernando Delgado

Sindicato dos Professores da Zona Sul

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