De empate em empate até à vitória final

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Fernando Santos

Sabem qual é o melhor sítio para ver a bola? Podia ser o sofá, sim, com as minis e os amendoins e as trinta repetições, mas não: é o estádio. Porque, por mais caros que os bilhetes sejam, não há nada como a bancada para ver o que se passa no relvado. É que o jogo é muito mais do que aquilo que se passa à volta da bola e, vendo este Portugal-Polónia na televisão, era impossível ver, ao minuto 33, Nani a reclamar com Renato Sanches depois de o miúdo ter cruzado uma bola demasiado longa para a área. O passe não deu em nada e Nani disse-o a Renato, por gestos, com uma mão a passar repetidamente por cima da outra: “Joga, joga”.

Um minuto depois, o novo reforço do Bayern – esta noite titular pela primeira vez, no lugar de André Gomes – voltou a receber a bola no corredor direito. Cruzou? Não. Conduziu, fixou o defesa, jogou curto para Nani, continuou a correr, Nani devolveu a bola de calcanhar e Renato marcou, com o pé esquerdo, o seu primeiro golo pela seleção.

Foi uma combinação magnífica e só não pôs Portugal a vencer porque, ao contrário do que tinha prometido Fernando Santos, Portugal não entrou “acordadinho” em Marselha. O jogo mal tinha começado quando Cédric, apesar de estar sozinho, abordou mal um passe longo para o corredor esquerdo do ataque polaco e viu a bola passar-lhe por cima da cabeça e para os pés de Grosicki, um dos dois perigosos alas da Polónia – o outro era Blaszczykowski, que teve Eliseu (Raphaël não recuperou) pela frente.

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O extremo entrou na área, assistiu Lewandowski e a Polónia fez o 1-0. Simples, como a maioria dos processos polacos, que até ao tal golo de Renato foram suficientes para a equipa de Adam Nawalka estar por cima do jogo, provocando calafrios sempre que se aproximava da área portuguesa, especialmente pelas alas e especialmente em contra ataques, porque em organização ofensiva pouco fazia.

Disposto inicialmente num 4-3-3 – Ronaldo na frente, Nani e João Mário nas alas e Renato, Adrien e William no meio -, Portugal demorou muito a pegar no jogo e teve em Renato a sua peça mais influente, especialmente quando o puto de 18 anos mandava o futebol às malvas e decidia jogar à bola (contrariando a organização mais paciente que o mister tanto aprecia), acelerando o jogo e procurando atacar a baliza – como fez no golo.

Tal como Renato, Ronaldo também foi procurando a baliza, mas este definitivamente não é o Europeu do capitão português: primeiro marcou (mais) um livre direto contra a barreira, depois rematou para as mãos de Fabianski e, por fim, sofreu um empurrão de Pazdan nas costas que o alemão Felix Brych deveria ter apitado para penálti. Mas não apitou, tal como Ronaldo, no início da 2ª parte, deveria ter oferecido um golo a João Mário, mas não ofereceu: preferiu rematar – torto.

Com os minutos a passar, a cautela foi subindo e o perigo descendo. Tirando uma abertura de Pepe (grande exibição do central) que ia dando em autogolo polaco e um passe magnífico – à futebol de praia – de Moutinho (entrou para o lugar de Adrien) que isolou Ronaldo – mas o capitão português não acertou na bola (tal e qual como no jogo contra Islândia) -, pouco mais houve para ver.

Não era preciso perceber muito de futebol nem de bola para ver o que isto ia dar: o quinto empate de Portugal em cinco jogos (no tempo regulamentar, bem entendido). E nem Quaresma, que entrou para o lugar de João Mário, conseguiu animar este prolongamento, que só teve um momento emocionante: quando um adepto português decidiu invadir o campo para se abraçar a Ronaldo e foi carregado ao colo pelos 20 seguranças que o perseguiram.

O instinto de sobrevivência português voltou a aparecer em força, como contra a Croácia, e os polacos também não conseguiam mais do que um ou outro cruzamento para assustar Patrício. Ambas as seleções limitaram-se a uma simples gestão do resultado e era óbvio que isto ia para penáltis – o que não se podia dizer que fosse mau para os polacos, que marcaram os cinco que tiveram contra a Suíça. Certo?

Errado, porque há poucas coisas certas no futebol. E foi assim que aconteceu:

Golo de Ronaldo, 2-1
Golo de Lewandowski, 2-2
Golo de Renato, 3-2
Golo de Milik (finalmente acertou uma, o desgraçado), 3-3
Golo de Moutinho, 4-3
Golo de Glik, 4-4
(entretanto Ronaldo, longe dos colegas, levava as mãos à cabeça)
Golo de Nani, 5-4
Ainda eu não tinha acabado de escrever Blaszczykowski e já Patrício defendia o remate, 5-4
Golo do mesmo homem que tinha decidido contra a Croácia: Quaresma, 6-4
Festa portuguesa

Portugal estás nas meias-finais – como no Euro-2012 – e vai jogar em Lyon contra a Bélgica ou contra Gales. Para quê ganhar, quando se pode ir empatando até à final? O engenheiro é que a sabe toda.

Mariana Cabral (Rede Expresso)

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