Depois da festa, o receio

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Na principal cidade da capital grega já não há sinal de festa. Tudo pareceria normal, não fossem as muitas carrinhas de satélite estacionadas em cima do passeio e as dezenas de câmaras de televisão apontadas a um povo já cansado de falar. Os repórteres estão ansiosos para contar ao mundo como está a Grécia a viver o dia seguinte. Os gregos estão preocupados em saber como vão viver a partir de amanhã.

As filas para levantar dinheiro são ainda maiores do que na última semana. Em Atenas, já não é possível tirar 60 euros em lado nenhum. As notas de 20 esgotaram-se em todas as caixas ATM. Os bancos deveriam voltar a abrir terça-feira, mas poucos acreditam que isso venha a acontecer. Sabem que o dinheiro está a chegar ao fim e pode acabar a qualquer momento. Depois da vitória do Não no referendo de domingo, vivem agora uma mistura de emoções, entre o medo e a esperança.

“Não sei se amanhã (terça-feira) ainda vamos conseguir levantar dinheiro. Tenho medo que, por vingança, a União Europeia não nos ajude e os bancos tão cedo não voltem a abrir. Mas também tenho esperança. É impossível não ter depois desta vitória. Um povo que mostrou tanta coragem há-de saber sobreviver”, diz Giorgios, de 45 anos, funcionário do metro, que continua gratuito esta semana, como todos os transportes públicos.

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Nas manchetes dos jornais a vitória do Não, com 61% dos votos, ocupa todas as primeiras páginas. “Ouviste, Europa?”, titula um dos diários. Mas a palavra Grexit também está presente. O Ta Nea, o mais vendido, escreve que ou há acordo ou o país sai do euro.

A demissão, esta madrugada, do ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, levou ainda mais repórteres a concentrar em frente ao Ministério, nas traseiras da Praça Sintagma, onde um grupo de empregados de limpeza despedidos em 2013 está acampado numa tenda há dois meses para lutar pela reintegração no Estado, prometida em janeiro pelo Governo do Syriza.

Kiriakos Bistaros, de 35 anos, dormiu na tenda esta noite, como em muitas noites dos últimos dois meses. Mas esta foi diferente. Foi animada pela música, pelos tambores e pela festa de milhares de pessoas que, como ele, celebraram domingo à noite nas ruas o resultado do referendo. “Continuamos a ter medo, pelo nosso dinheiro e pelos nossos depósitos. Mas agora também temos esperança de conseguir um acordo melhor. Com o Sim, isso não aconteceria. Ia ser ainda pior do que nos últimos cinco anos”, defende.

Apesar de ter votado Não, Stella Kokola, de 41 anos, não saiu para festejar. “Claro que fiquei satisfeita com o resultado, mas não posso dizer que fiquei feliz porque vai ser muito difícil”, diz enquanto aguarda junto a uma caixa ATM perto da praça Omonia, uma das mais importantes de Atenas, onde a fila está agora maior do que o habitual nos últimos dias. Ao contrário de muitos, Stella, funcionária no Ministério da Cultura, diz que não tem medo que o dinheiro chegue ao fim. “Tirando para os muito ricos, quando acabar acaba para todos por igual. Haveremos de encontrar uma solução”, diz.

Irene, de 52, motorista de táxi, também não saiu de casa domingo à noite para celebrar. “Dissemos Não porque não podíamos aceitar que continuassem a matar-nos à fome. Tínhamos de fazer alguma coisa. Mas não há nada para festejar. Os próximos tempos vão ser muito duros. A verdadeira luta começa agora”.

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