“É preciso ciência e investimento no mar”

Este será o tema central da Conferência dos Oceanos da ONU, organizada por Portugal em conjunto com o Quénia e que vai decorrer em Lisboa entre 27 de junho e 01 de julho

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Portugal deveria criar “um programa nacional de ciência para ligar oceanos e clima e investir no mar”, defende o administrador da Fundação Oceano Azul, a propósito da conferência dos Oceanos das Nações Unidas em Lisboa.

Tiago Pitta e Cunha, a trabalhar há duas décadas na área das políticas oceânicas e administrador da fundação criada em 2017 e dedicada à proteção dos oceanos, defende a importância estratégica dos oceanos para Portugal, desde a exploração de recursos biológicos como algas e bivalves, que considera matérias-primas do futuro, até a exploração de energia eólica ‘offshore’ e ao transporte marítimo.

O especialista diz que é preciso que Portugal tenha uma estratégia e um plano para explorar a sua “economia azul”, mas investir também em áreas marinhas protegidas, para preservar a biodiversidade que resta, área de trabalho relevante da fundação Oceano Azul e tema central da Conferência dos Oceanos da ONU, organizada por Portugal em conjunto com o Quénia e que vai decorrer em Lisboa entre 27 de junho e 01 de julho.

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Tiago Pitta e Cunha lembra o apoio da fundação na criação da maior área marinha com proteção total da Europa, nas Ilhas Selvagens e a proposta de criação de um parque marinho no Algarve e o envolvimento na criação de novas áreas marinhas protegidas nos Açores.

“A Fundação Oceano Azul não ficou à espera dos governos para começar a procurar impulsionar estes processos de criação de áreas marinhas protegidas”, diz Pitta e Cunha, que acredita que está a fazer o correto para ajudar na saúde dos oceanos, assim os governos do planeta o façam também, a começar por Portugal, que deve compreender que pode tornar-se um país muito relevante do ponto de vista económico. A Fundação tem defendido que a bioeconomia azul terá um papel crucial na resposta a alguns desafios do mundo, criando mesmo um programa (“Blue Bio Value”), um acelerador de negócios em start-ups de biotecnologia azul.

O responsável acredita também que é possível Portugal chegar ao final da década como uma potência marítima como é a Noruega.

Com uma diferença. Se a Noruega é uma potência marítima das pescas, da aquicultura, do petróleo e do gás natural, Portugal pode ser uma potência “do novo paradigma da economia do século XXI, que é a economia do ambiente e da conservação da natureza como parte da economia”.

“Nós temos um potencial gigantesco na alimentação a partir do mar, temos um potencial gigantesco na energia eólica ‘offshore’ flutuante e temos o potencial de combinar as duas”, porque as plataformas onde assentam as turbinas eólicas poderiam servir para projetos de aquicultura de algas e bivalves.

Essas turbinas com dupla função permitiriam a Portugal tornar-se produtor e exportador de energia e ao mesmo tempo criar tantas proteínas de algas e bivalves que o país poderia tornar-se, no futuro, “o verdadeiro celeiro submarino da Europa”, diz.

“Porque é que não avançamos para estas soluções e porque é que não fazemos biotecnologia?”, questiona o especialista, salientando que as turbinas vão gerar energia não poluente e os bivalves e as algas vão ajudar a desacidificar os oceanos removendo o carbono, “porque 40% de uma concha de bivalve é carbono”.

E gerar energia em alto mar, diz Pitta e Cunha, tem outra vantagem, a de estar mais próximo dos consumidores. Porque parques eólicos a 15 quilómetros da costa estariam próximos dos consumidores, que vivem maioritariamente junto da costa.

“Temos de começar a pensar nestes termos e temos de começar a passar das estratégias aos planos concretos, desenvolver estas áreas para tentar chegar a ser a dita potência do século XXI”, diz, incluindo nessas estratégias a biotecnologia, a que vai, diz, “criar uma grande revolução, não só económica, mas na forma de utilizarmos os recursos naturais do planeta”.

Tiago Pitta e Cunha admite que há ainda muito a fazer na mudança de mentalidades em Portugal, incluindo na reciclagem ou na redução da produção de lixo.

Por isso a fundação criou em 2019 nas escolas o programa “Educar para uma Geração Azul”, que inclui um manual e que até ao fim do ano passado já envolveu cerca de 17.000 mil alunos.

Outro projeto da fundação, mais prático, agrega organizações que recolhem lixo nas praias. Pitta e Cunha acredita que quem apanha lixo na praia nunca irá deitar lixo na praia, mas adianta: “o que é estranho é como é que ainda há pessoas que deixam o lixo nas praias”.

Pitta e Cunha lembra que a maior parte da legislação ambiental que existe em Portugal vem de Bruxelas e não da Assembleia da República, e que se Portugal não estivesse na União Europeia “estava na pré-história da sustentabilidade ambiental”.

“O que nós precisamos, de facto, é de que todos deem mais atenção a estes temas, mas a começar nos decisores, nos decisores políticos, mas também nos decisores económicos, que deviam procurar no contexto da sua responsabilidade social levar os seus colaboradores a compreender essas coisas”.

Tiago Pitta e Cunha espera que a Conferência dos Oceanos tenha alguma utilidade nesta matéria de sensibilização dos portugueses, porque em Portugal os índices de responsabilidade ambiental “são muito baixos”, e diz que o país precisa, nesta área, de “meter uma mudança abaixo e acelerar a fundo”.

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