EDITORIAL

A propósito das praxes

 

A morte de seis jovens estudantes da Universidade Lusófona na praia do Meco, entre os quais se encontrava a louletana Andreia Revez, de 21 anos, alegadamente vítimas de uma praxe, abriu o debate, na sociedade portuguesa, acerca destes rituais a que são sujeitos os caloiros.
As dúvidas e a contestação a este tipo de práticas, que os grupos que as promovem apelidam de “integradoras” dos alunos na vida académica, são antigas, mas só são faladas entre os responsáveis e trazidas ao debate público sempre que ocorre uma tragédia, como a que se verificou agora. Depois tudo volta à normalidade e o perigo fica à espreita de fazer mais vítimas e traumatizar mais umas centenas de jovens, para além da pobreza dos valores morais e civilizacionais que lhes são transmitidos, na linha, aliás, daquilo que nos “ensinam” os “big brother” e outros “reality shows” televisivos.
Que tipo de jovens é que se pode formar com um ritual de atividades irracionais, de humilhações pessoais e tratamentos degradantes, como as televisões têm mostrado? Será que estamos a contribuir para a formação de jovens aptos a viver em democracia, respeitanto o outro e encarando-o como seu igual ou, antes, a contribuir para a reprodução e a aceitação de comportamentos violentos, de submissão ao chefe e de intolerância?
Felizmente, pelo que podemos perceber da reportagem que hoje editamos, na Universidade do Algarve as praxes não terão uma carga tão violenta como acontece na Lusófona e noutras universidades portuguesas. Muito por ação dos seus reitores, particularmente, o Professor João Guerreiro que impôs que, no interior do campus universitário, essas iniciativas não perturbassem o ambiente de trabalho, nem fossem usados trajes menos dignos, nem linguagem grosseira, mas também, o que é justo que se sublinhe, por ação da respetiva associação académica que, em 2009, aprovou um novo código de praxe que aboliu abusos e violências que ponham em risco a integridade física dos alunos, responsabilizando quem as pratica. E há, até, um estatuto anti-praxe que os alunos podem requerer, mas que, acreditamos, poucos farão uso dele, pelas consequências que isso acarreta para os caloiros. Quem o fizer, perde o direito a usar o traje académico e a participar em jantares de curso e convívios. Uma medida discriminatória e anti-democrática que pressiona os estudantes, na hora de decidirem.
A mensagem que gostaríamos de aqui deixar, como nosso contributo para este debate é que os estudantes tivessem a vontade e a imaginação suficientes para adaptarem o modo como recebem atualmente os caloiros, a formas mais humanas de se promover a integração dos que acabam de chegar à universidade, que assentem nos valores universais da liberdade, igualdade e fraternidade.

Fernando Reis

 

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